AmarElo – mais que um documentário, um acerto de contas com nosso passado

AmarElo

Por Marcos Eduardo Neves

Emicida estreia do show AmarElo
Emicida no palco do Municipal no show de lançamento do álbum ‘AmarElo’ – Foto: Reprodução

Documentário, não: um dos melhores filmes do ano. “AmarElo – É tudo Pra Ontem” oferta mais do que os bastidores do show feito pelo rapper Emicida em novembro de 2019 no Theatro Municipal de São Paulo. Faz um resgate histórico da cultura e dos movimentos negros que sucederam a libertação dos escravos, no fim do século retrasado.

O álbum vencedor de um Grammy latino não pôde virar turnê devido ao surto do coronavírus, mas nem a pandemia calaria a forte mensagem. O recado é dado por meio de um roteiro bem trabalhado, excelente pesquisa, montagem atraente e uma fotografia que potencializa a “ordem do dia”.

Se “contra fatos não há argumentos” só nos resta ver e ouvir. E, calados, admitirmos todos os erros cometidos e perpetrados por nossos ancestrais. E Emicida tem pressa no seu sacerdócio de alertar seu povo sobre o passado, presente e futuro. É tudo pra ontem, como ele repete várias vezes.

Tendo a luta antirracista no epicentro do debate, “AmarElo” dá uma aula de História, Literatura, Arte e Sociologia. Prova que a cultura negra contribuiu profundamente na formação da identidade brasileira.

O dramaturgo Abdias do Nascimento, a atriz Ruth de Souza, o conjunto Oito Batutas (do qual o genial Pixinguinha era flautista), o compositor Johnny Alf, o sambista Wilson das Neves e a filósofa Lélia Gonzalez (irmã de Jayme de Almeida, ex-jogador e técnico campeão da Copa do Brasil com o Flamengo em 2013) são algumas das referências apresentadas no doc, que conta com participações especiais de Fernanda Montenegro, Zeca Pagodinho, Marcos Valle, Majur e Pablo Vittar. Veja o trailer de “AmarElo – É Tudo Pra Ontem”, em cartaz no Netflix:

Se em 1978, numa época de protestos contra a violência racial – algo teria mudado desde então? – o Theatro Municipal, palco secular da elite branca, presenciou o surgimento do Movimento Negro Unificado (MNU), lançar esse trabalho no mesmo espaço, explica Emicida, não passa de “reparação histórica”. Assista o show aqui:

Reparação essa que não impediu que a primeira morte por Covid-19 no país tenha sido de uma empregada doméstica. O que deveria ser simbólico, infelizmente, não passa de fato comum. Triste Brasil, terra na qual racismo, desigualdade social e preconceito matam. Menos mal que a esperança não morre. Segue o jogo, então, que a luta continua.

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