Ana de Oliveira em improvisos com a marca de uma vida

Ana de Oliveira

Radicada no Rio desde que ingressou na Orquestra Sinfônica Nacional da UFF, onde é spalla, a violinista paulista Ana de Oliveira estreia neste ano complicado dois projetos solo: o álbum “Dragão dos Olhos Amarelos” e o livro “O Violino na Música Contemporânea Brasileira – um Manual de Técnicas Estendidas”.

Fruto de seu mestrado profissional concluído em dezembro de 2018, pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Uni-Rio), o livro dá subsídios técnicos e teóricos sobre o instrumento para ser usado como um manual para estudantes de violino e composição. Por técnicas estendidas, Ana define todos os meios técnicos instrumentais não tradicionais e não convencionais para a performance de obras musicais contemporâneas. “No Brasil não há muitas referências técnicas e bibliográficas sobre o tema, embora haja um crescente interesse pela música produzida hoje”, destaca Ana de Oliveira.

“Mas foi devido à minha dedicação na execução do repertório para violino dos séculos XX e XXI e, naturalmente, a partir de minhas próprias dificuldades na busca por soluções para a execução de determinadas passagens, assim como em interpretar novas notações musicais, que surgiu a necessidade de elaborar um manual sobre técnicas estendidas para o violino”, completa.

Capa do CD 'Dragão dos Olhos Amarelos' - Foto: Divulgação Ana de Oliveira
Capa do CD ‘Dragão dos Olhos Amarelos’ – Foto: Divulgação

Vamos agora falar deste álbum interessantíssimo. Com produção, direção e concepção da própria instrumentista, “Dragão dos Olhos Amarelos” tem 15 faixas e dez delas foram criadas instantaneamente, em fevereiro, no estúdio de gravação, ou seja, são improvisos de Ana ao violino.

Além destas autorais inéditas, compõem o repertório “Dodecafoniana I e II” para violino solo (Sérgio Ferraz); “Eterna” (Egberto Gismonti) em versão para solista e orquestra; “Malinconia”, da segunda Sonata para violino Solo, de E. Ysaÿe; e a bela “Posso Chorar”, com André Mehmari ao piano, uma faixa bônus inédita escrita por Hermeto Pascoal nos anos 1980 e dedicada à violinista quando o Bruxo a conheceu na estreia de sua “Sinfonia em Quadrinhos”, quando a solista era spalla da Orquestra Sinfônica Jovem Municipal de São Paulo. Com o violinista Sérgio Ferraz, Ana de Oliveira lançou em 2019 o álbum “Carta de Amor e Outras Histórias”, que merece ser apreciado.

“As composições instantâneas que integram este trabalho são inspiradas em momentos, memórias, sentimentos de minha vida, que foram retratadas sob forma de música… uma catarse e um ato de coragem de me expor visceralmente”, conta Ana.

Responsável pela gravação, mixagem e masterização do álbum, André Mehmari adotou o trabalho que enxerga como “um testemunho potente da resistência do artista brasileiro em meio ao mais desafiador cenário em tempos recentes”. “Ana empunha corajosamente seu arco e lança a flecha sonora certeira na direção do ouvinte apto a viajar com ela por veredas que vão muito além do conforto estético e formal: a fascinante imperfeição do ser humano em constante estado de mutação”, destaca o pianista. Ouça este belo trabalho aqui:

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