As pedras rolam e o Barão Vermelho segue seu destino

Capa do CD “VIVA”, o 18º álbum do Barão Vermelho- Foto: Reprodução

O rock and roll é uma estrada errante mas que sempre deve ser percorrida. Essa profissão de fé está latente em VIVA, o 18º álbum do Barão Vermelho e o primeiro de inéditas desde 2004. O trabalho marca a estreia em estúdio do guitarrista e cantor Rodrigo Suricato, que assumiu os vocais principais da banda no ano passado quando os integrantes remanescentes decidiram que era preciso caminhar e olhar para a frente mesmo sem Roberto Frejat, o vocalista desde 1986, que decidiu dedicar-se à carreira solo. Essa situação não chega a ser novidade para o Barão, pois o próprio Frejat assumiu esse papel depois das incertezas trazidas pela saída de Cazuza do grupo criado por ele, Frejat, Maurício Barros (teclados), Dé (baixo) e Guto Goffi (bateria)  em 1981. Mas as pedras do rock estão aí para rolar.

Fã declarado da banda, Suricato não só canta como empodera a sonoridade do Barão com sua potente guitarra e contribui como compositor. “Nada mais rock’n roll do que seguir, mesmo depois da saída de nomes como Cazuza e Frejat”, justifica o novo tripulante. “Mais do que o som, o Barão tem uma voz própria, agora pela garganta do Suricato”, destaca Guto Goffi. “Suricato é um guitarrista absurdo. Acho que jamais vi um cara tocar tanto”, elogia Fernando Magalhães, no Barão desde 1985.

A volta de quem nunca se foi

Além da estreia de Suricato, VIVA tem a volta do tecladista, produtor e cantor Maurício Barros, que havia deixado de ser membro oficial em 1988, embora tenha produzido, tocado e composto para o grupo por todo esse tempo. Uma espécie de volta dos que não foram. “Maurício sempre esteve conosco nos shows e produzindo discos. Mas havia deixado de ser integrante oficial em 88. Não havia escolha. Ele tinha que voltar ou o Barão acabava”, argumenta Goffi, que já disse que quer “apodrecer sentado em cima da bateria”. Veja abaixo:

E Maurício “volta” assinando várias faixas do álbum, o que não chega a ser novidade. Os iniciados no Barão sabem que o tecladista é co-autor de vários sucessos da banda desde os tempos de Cazuza. “A gente não começou a compor agora. A primeira música do grupo, Billy Negão, foi escrita por Cazuza, Guto e eu. Depois fizemos juntos, por exemplo, Puro Êxtase. Barros e Goffi são co-autores de canções como Menina Mimada, Blues do Iniciante, Torre de Babel, Declare Guerra, Pense e Dance e Tão Longe de Tudo. Com Freejat e Mauro Santa Cecília, Maurício compôs Por Você, que é hoje o maior sucesso do Barão.

Mas houve uma fase, iniciada com a saída de Cazuza, em que um time de compositores firmou parcerias com o Barão Vermelho, entre os quais Arnaldo Antunes, Renato Russo, Luiz Melodia, Wally e Jorge Salomão, Dulce Quental, Mauro Santa Cecília e o produtor Ezequiel Neves (talvez o maior entusiasta da banda). “No passado, buscamos letristas de fora, mas dessa vez decidimos que seríamos apenas nós”, revela Fernando Magalhães.

Depois de declarar guerra, cantar o amor é revolucionar

VIVA é o manifesto ao amor, à amizade e à tolerância de uma banda que já declarou guerra. Em cada faixa há versos que remetem à necessidade de seguir em frente, reforçando a necessidade que o Barão tem de manter-se em plano de voo. A faixa de abertura Eu Nunca Estou Só é blues 4×4 escancarado no violão e na voz de Suricato que foi composto pelos quatro integrantes em cerca de 10 minutos. “Foi incrível. Ali selamos o nosso pacto com o destino da banda”, lembra Suricato. A letra ratifica a mística blueseira e brasileira do Barão Vermelho: “É que eu me conheço no meio desse nada / E aos poucos me entendo nessa encruzilhada”. Mas não fica nisso, pois a gravação contou com  a participação especial do rapper carioca BK. “Chamamos o BK, porque queríamos esse diálogo. O hip hop traz na sua essência a mesma contestação libertária do rock”, defende Suricato. “Os dois gêneros são vizinhos de porta”, diverte-se o convidado, que escreveu os versos do rap da canção. Veka aqui o clipe:

Por Onde Eu For (Barros/Suricato) é um rock luminoso solar que celebra a amizade. (“E não eu vou esquecer de tudo que passou / secar minha cara sob o sol”). Em Jeito (Barros), com um solo de guitarra à la Keith Richards, sobressai a diversidade (“A gente é o que é /não tem jeito”). “O disco celebra a vida, mas atento à realidade. Essa canção fala de tolerância”, afirma Barros. A preocupações do Barão com as ameaças às liberdades segue em Tudo Por Nós 2 (Barros/Goffi), um rockão bem acabado e redondinho com um ótimo riff. “Todo esse bagulho é pra nos confundir/Nada vai nos dividir/ Será?”, ataca Barros nos vocais em duo com Suricato. Vai Ser Melhor Assim (Suricato) é um rock rasgado provocante com todos os elementos estéticos que fizeram o Barão Vermelho decolar no cenário do rock brasilis.

” A gente declarou guerra lá em 1986, mas achamos que o amor, especialmente nesse momento do mundo e do Brasil, é revolucionário”, insiste Maurício. E a temática do amor se derrama pelo álbum em canções como Castelos (Barros), Um Dia Igual ao Outro (Suricato) e a lírica Pra Não Te Perder (Goffi/Suricato), com participação de Letícia Novaes (Letrux). “Essa música tem uma coisa quase genética, maternal”, comenta a cantora, sobre a poesia de Guto Goffi que possui versos acolhedores como “Dentro de você eu me escondo pra não te perder”, cantam Suricato e Letrux num duo intenso.  Ouça aqui:

Primeiro single gravado pela banda com Suricato nos vocais, A Solidão Te Engole Vivo (Goffi/Magalhães/Barros) funciona como um link de mão dupla entre o legado da banda e os dias que virão. “O melhor disco tem que ser sempre o próximo. Estamos olhando pra frente”, reforça Goffi.

Nova rota de voo do Barão Vermelho

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