Bob Dylan – 80 anos

Bob Dylan

Por Paulo Roberto Andel

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Bob Dylan nos anos 1960 – Foto: Reprodução

Cada um conheceu Bob Dylan de um jeito. Eu me lembro da primeira vez que ouvi seu nome e vi seu rosto: foi em 1977, em Vicente de Carvalho, quando ele tinha 36 anos e já era um ícone mundial. Eu tinha de oito para nove, e estava comprando figurinhas com meu pai numa banca de jornais, para um álbum de nome Multicolor. Chegando em casa, abri o pacote e saiu a figurinha de Bob Dylan. Achei o nome muito diferente. Meu pai disse apenas “é um grande artista”, ele não falava muito.

Seis anos depois, eu já ouvia Bob Dylan quase todo dia, já que as rádios o tinham como presença obrigatória tanto nos programas de flashback (“Lay, Lady, Lay”) quanto na programação habitual – Dylan tocava o tempo todo com “Jokerman“, sua volta ao sucesso e que ganhou bela releitura de Caetano Veloso. E de lá para cá, nunca mais o larguei. Em 1990, eu estava com meu amigo Zé Luiz na Apoteose em noite histórica e, oito anos mais tarde, no incrível show de Cássia Eller, Bob Dylan e os Rolling Stones.

Bob Dylan duyrante a gravação do Acústico para a MTV, em 1994 - Foto: Divulgação
Bob Dylan durante a gravação do Acústico para a MTV, em 1994 – Foto: Divulgação

Em 1994, Bob Dylan lançou o “Acústico MTV”, que o levou a um novo e renomado público. Foi o primeiro passo de uma recuperação definitiva: desde então, todos os seus álbuns foram aclamados pela crítica a partir de “Time out of Mind” (1997) e, se não possuem hits semelhantes aos primeiros dez anos de carreira – quando literalmente mudou o mundo, sendo um digno sucessor da literatura beat, além de mudar o curso de ninguém menos do que os Beatles -, são obras de grande esmero daquele que é o maior artista estadunidense vivo. Uma pérola atrás da outra.

Escritor, pintor, poeta, compositor, Bob Dylan é a única pessoa no mundo a ter ganho o Prêmio Nobel de Literatura, o Prêmio Pulitzer, o Oscar, o Grammy e o Globo de Ouro. Dificilmente alguém conseguirá igualar tal façanha.
Eu fui um garoto que cheguei à literatura beat graças a Bob Dylan, e fico pensando em quanta gente no mundo teve a mesma experiência definitiva.

Ele mesmo saiu de casa quando leu Jack Kerouac, e uma de suas fotos mais famosas é dele com Allen Ginsberg, ambos sentados de pernas cruzadas, aos pés do túmulo de Jack com Allen lendo. Desde o dia em que deixou sua casa para sempre, mesmo sem ter planejado, Bob Dylan mexeu com os alicerces da cultura ocidental. Fez tudo de seu próprio jeito, encarou vaias, trocou de religião e nunca parou de tocar, exceto quando veio a pandemia.

Isso não o impediu de lançar seu mais recente álbum, “Rough and Rowdy Ways” em 2020, que encerra com a espetacular “Murder Most Foul”, faixa épica e crítica de 16 minutos baseada no assassinato de John Kennedy.
Dylan há muitos anos iniciou a “Neverending Tour” e se espera que, na volta à normalidade, ela prossiga. Não é possível prever até quando, mas uma coisa é certa: ver Bob Dylan em ação num palco é uma das mais avassaladoras experiências que uma pessoa pode ter com arte. O referido é verdade e dou fé.

A maravilhosa Chrissie Hynde, dos Pretenders, concorda: ela acaba de gravar ‘Standing in the Doorway”, um LP de covers do poeta. Bob Dylan é uma fonte inesgotável, assim como seu ídolo Woody Guthrie foi para ele. Ouça aqui esse lindeza que é o álbum da diva roqueira:

 

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