Cláudio Cartier morre aos 70

Neste sábado (17) comemora-se o Dia da Música Popular Brasileira, data criada oficialmente há oito anos, e nossa MPB amanhece empobrecida com a morte do cantor, compositor, instrumentista, arranjador, artista plástico e cartunista (ufa…) Cláudio Cartier, aos 70 anos, vítima de infarto. É bem provável que os não iniciados jamais tenham ouvido falar de seu nome, mas é justamente essa uma das razões do Na Caixa de CD existir, para falar de quem fez e faz pela música, aqui e em toda parte.  Arranjador de talento, Cartier formou 1974 dupla com Octávio Burnier (hoje Tavynho Bonfá), a dupla Burnier & Cartier, que durou até 1978. Foi em 1975, que o ouvi pela primeira vez com a canção “Ficaram Nus”, um dos destaques do Festival Abertura, realizado pela TV Globo em 1975. havia nela uma explosão sonora, uma superposição em camadas com fartas doses de psicodelia que a criança de 9 anos que era tinha dificuldade de assimilar, mas eu vidrado no refrão “Foram pra São Paulo fazer / Tava na Cara, ficaram nus…”:

O álbum de estreia da dupla é uma preciosidade e contou com músicos de primeiro time na gravação. Estamos falando de gente como Paulo Moura (saxofone), Marcio Montarroyos (flugelhorn), Bebeto, Edson Bastos, Luisão Alves e Novelli (baixo), Mamão (bateria) e Chacal, Chico Batera e Hélcio Milito (percussão). Confiram aqui a excelência deste trabalho 100% autoral da dupla:

Com o fim da dupla, Cartier enveredou mais para as composições e arranjos com trabalhos gravados por grandes nomes da MPB. A primeira delas viria a ser “No Analises”, parceria com Paulo César Feital, gravada por Nana Caymmi. E muitos outros engrossam a lista de seus intérpretes como Milton Nascimento, Danilo Caymmi, Emílio Santiago, João Nogueira, Olívia Hime, Beth Carvalho, Os Cariocas, Quarteto em Cy, Leny Andrade, Nei Lopes, Wilson Moreira, Aldir Blanc, Walter Alfaiate e Tim Maia, entre outros. Ouça aqui a belíssima “1789”, outra parceria com Feital, gravada em 1981 por Olívia Hime com arranjo de Francis Hime:

Com o parceiro e amigo Feital viria a ter muitas outras parcerias como “Dia Tão Bonito” e “Dias de Lua”, incluída na trilha sonora da novela “Direito de Amar” (TV Globo) e na “Araponga”. Mas o maior sucesso da dupla foi “Saigon”, gravada originalmente em 1985 (Carlão era o terceiro autor), mas que estourou definitivamente em 1992 com a gravação de Emílio Santiago num dos álbuns da série Aquarela Brasileira”.

Participou ainda da trilha sonora da novela “Perigosas Peruas” (TV Globo) com a música “É demais pra mim” (c/ Marco Aurélio). Compôs trilhas para teatro: no espetáculo “A Tempestade” e, com Geraldo Casé, a trilha sonora do musical infantil “A Fábrica de Sonhos”. E asinou a produção e direção musical da peça infantil “Cinderela”, de Maria Clara Machado, com músicas compostas em parceria com Elvira Helena.

Como arranjador atuou em trabalhos de Nana Caymmi, Zizi Possi, Fafá de Belem, Emílio Santiago, Sérgio Mendes, Doris Monteiro, Sarah Vaughan, Dun Burrows, George Golla, Tim Maia, Beth Carvalho, Nelson Gonçalves, Elba Ramalho, e Mussum e também na trilha sonora do “Sítio do Pica-Pau Amarelo” ( TV Globo).

Na área publicitária, compôs e, juntamente com o maestro Darcy de Paulo, produziu, peças veiculadas em rádio e televisão, par
Como cartunista e/ou ilustrador, realizou trabalhos para Editora Vecchi,TV Globo e participou de Salões, como Salão Naval , Salão do Trem, Salão Carioca de Humor, Correios e Cem Anos de Futebol, entre outros.

Sua excelência no violão tem explicação. Ganhou o primeiro instrumento aos 11 anos, estudou violão clássico com os mestres Antonio Rebello e Jodacil Damasceno. mas aproximou-se da música popular em encontros com a cena musical universitária e seus festivais, onde passou a se fazer presente. No Instituto Villa-Lobos, recebeu orientação musical de Radamés Gnattali e estudou canto na Escola Nacional de Música. Em paralelo, cursou desenho no Instituto de Belas Artes, tendo realizado diversos trabalhos gráficos, entres os quais capas de álbuns e os cartuns para o humorístico “Faça humor, não faça guerra” (TV Globo).

Capa do álbum de 1982

Cláudio Cartier deixa parentes, uma penca de fãs e amigos, dezenas de canções  e uma discografia que, além dos dois álbuns com Octávio Burnier, dois álbuns solos “Cláudio Cartier” (Opus Columbia, 1982) e “Direito de Amar” (som Livre, 1987) e os compactos “1789” (Warner, 1984) e Saigon (Som Livre, 1985). Para nos despedirmos deste generoso artista, deixo duas de suas mais belas criações, a sublime “Mil Atrações”, de 1982, (parceria com Aldir Blanc), e uma interpretação do ano passado em voz e violão para a sua “Saigon”, em gravação para o projeto Registros, da Savalla Records.

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