Morre Tantinho, partideiro fascinado pela Mangueira

Tantinho da Mangueira
Tantinho
Tantinho desfilando pela Mangueira – Foto: Reprodução

Sempre identificado com o morro onde nasceu e foi criado, Tantinho da Mangueira pouco gravou discos. No ano passado, a convite de Maria Bethânia, fez um dos mais belos registros no CD da cantora em homenagem à escola verde e rosa, Mangueira, a menina de meus olhos. Nele, cantou o samba-enredo que fez para o desfile com Bethânia como tema no Carnaval de 2016, A Menina dos olhos de Oyá, e que não foi o escolhido pela escola. Mais do que um agradecimento a sua bela parceria com Alípio Carmo, André Braga, Guilherme Sá, Jansen Carvalho e Marco Túlio, foi também um reconhecimento ao talento de Tantinho como compositor e intérprete, e que dedicou a vida a pesquisar e cantar a história da Mangueira. Escute a gravação aqui:

Sua morte no hospital municipal Lourenço Jorge, na Barra da Tijuca, na noite desse Domingo de Páscoa, 12 de abril, aos 72 anos, nada teve a ver com a pandemia do coronavírus. Aconteceu devido a complicações em decorrência de uma queda em casa. Tantinho tinha diabetes.
Logo que a notícia se espalhou, houve enxurrada de postagens nas redes sociais com depoimentos de compositores, jornalistas, pesquisadores, produtores e admiradores. Em uma live no Instagram, a cantora Teresa Cristina, muito emocionada, cantou sambas de Tantinho e contou histórias do compositor.
“Hoje a Música Brasileira perdeu um grande Baluarte”, afirmou o compositor Nei Lopes em seu blog.
“Tantinho, que grande perda! Muito triste”, disse a compositora Manu da Cuíca, autora das letras dos dois últimos sambas da Mangueira, nos carnavais de 2019 e 2020. O lamento foi endossado, em outra postagem, por seu parceiro de música e de vida, o compositor Luiz Carlos Máximo.
“Vá em paz, Tantinho da Mangueira, agradecido por tudo”, expressou o produtor musical Nano Ribeiro, diretamente de Luxemburgo, onde vive atualmente.
“Tantinho era modesto, tinha voz, musicalidade e conhecimento para ser grande. Largou Os Originais do Samba, conjunto em que entrou convidado por Mussum, porque não queria viajar (sair do morro). Representou Mangueira no partido alto organizado por Candeia e Paulinho da Viola para Leon Hirszman filmar, e aparece dançando miudinho, todo moderno vestindo uma calça boca de sino. Era isso, sambista autêntico e moderno. Partideiro e compositor”, escreveu o jornalista e curador do Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro, Hugo Sukman.

Veja aqui trecho do filme Partido alto, de Leon Hirszman, onde Tantinho aparece sambando e tocando prato e faca, ao lado de Candeia:

Desde garoto, Tantinho frequentou rodas de samba e conviveu com personalidades da Mangueira como Cartola, Nelson Cavaquinho, Carlos Cachaça e Dona Neuma, entre outros. Aos cinco anos de idade, já saía na bateria da Estação Primeira. Foi aprovado pelo próprio Cartola na Ala de Compositores. Tinha então apenas 13 anos de idade, Na década de 1970, participou das famosas noitadas de samba que aconteciam no Teatro Opinião, em Copacabana. Foi um dos grandes divulgadores dos sambas de Padeirinho e também de Xangô da Mangueira.
No Jornal do Brasil, na década de 1970, foi contínuo da editoria de Esportes, mas era requisitado por outras editorias e logo se tornou amigo de muitos repórteres e fotógrafos. Em fevereiro de 2018, na tentativa do jornal voltar às bancas, participou juntamente com Monarco, que também trabalhou no JB, de uma foto feita por Evandro Teixeira, ícone do fotojornalismo. Na ocasião, recordou para o Caderno B algumas memórias daquela época. Laboratorista, trabalhou algum tempo no Museu Benjamin Constant, onde funcionava um laboratório de fotografia, e se aposentou, na década de 1990, como funcionário da Funarte.
Tantinho, memória em verde e rosa, é o título do CD duplo que lançou em 2006 com composições próprias e de outros compositores da verde e rosa, um disco que se tornou referência para muitos músicos e admiradores do samba.
Em 2010, lançou o CD Tantinho canta Padeirinho da Mangueira, que lhe deu o Prêmio da Música Brasileira, nas categorias disco de samba e cantor de samba.
Com produção de Paulão 7 Cordas, dividiu com o já falecido Renatinho Partideiro e mais Marquinho China e Serginho Procópio, o CD Prazer: partido alto, lançado em 2012, e que traz também participações de Zeca Pagodinho e Gabrielzinho do Irajá.
Integrante da Velha Guarda da Mangueira, participou, em 2015, do CD duplo Sambas para a Mangueira, que reúne diversos cantores e no qual interpreta Todo tempo que eu viver, de Cartola, com os famosos versos: “Todo tempo que eu viver/ Só me fascina você/ Mangueira”. Sem dúvida, a interpretação definitiva dessa obra-prima. Ouça aqui:

Um pouco do seu amor à Mangueira e da sua atuação como intérprete e compositor pode ser visto na entrevista que deu a Fernando Faro no programa Ensaio produzido pela TV Cultura. Confira aqui:

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