Música, letra e… Marina Lima! Livro apresenta partituras de sua discografia

Marina Lima
Capa do songbook 'Música e Letra', que reúne letras e partituras de 175 canções de Marina Lima - Foto: Divulgação
Capa do songbook ‘Música e Letra’, que reúne letras e partituras de 175 canções de Marina Lima – Foto: Divulgação

Celebrando um ciclo de 21 discos, Marina Lima lança e disponibiliza de forma totalmente gratuita seu primeiro e único livro de partituras e letras contendo toda a sua obra como compositora, intérprete e arranjadora. “No decorrer da minha carreira, várias vezes me propuseram fazer um livro como esse, mas eu nunca achei que estava na hora. Agora que minha obra está madura, eu acho que é o momento”, justifica a cantora e compositora carioca, do alto de muitos hits.

As 175 canções transcritas por Giovanni Bizzotto, músico e parceiro que acompanha Marina desde a década de 1990, foram revisadas integralmente pela artista, uma entusiasta do acesso à transcrição musical de obras musicais desde cedo. “Quando comecei a aprender a tocar violão, ainda garota, comprava todos os songbooks que havia dos Beatles, do Bob Dylan, do Tom Jobim… Eu sempre gostei e sei que esse tipo de material ajuda muito quem quer se desenvolver”, relembra Marina, ao falar sobre os primórdios de sua formação artística. E o hábito persiste, como acrescenta: “No decorrer da minha vida, mesmo sabendo violão, sempre estudei, fiz aulas e percebo que o que há de mais importante é o songbook do artista. Tudo o que o aluno quer e precisa é material para aprender. Esses materiais são ouro”.

Sobre a escolha de Bizzotto para a tarefa de transcrever sua obra, Marina destaca a fidelidade do amigo às canções que ela criou nas últimas décadas. “Giovanni foi meu professor de violão por um bom tempo e depois virou um músico e um parceiro meu. Não havia pessoa melhor para essa missão”, destaca.

Apresentando sua obra completa através de seus discos, o livro vai do seu primeiro álbum, “Simples como Fogo”, lançado em 1979, até o seu último, “Novas Famílias”, de 2018. A escolha em organizar sua obra através de seus fonogramas fez com que fossem incluídas não apenas as suas composições autorais, mas também aquelas de outros autores que se tornaram sucessos em sua voz, como “Uma Noite e Meia” (de Renato Rockett), “Pessoa” (Dalto) e “À Francesa” (Claudio Zoli/Antonio Cicero). “Não gostava da ideia ter apenas as canções que compus. Meus discos são minha obra, mesmo que algumas das canções que gravei não tenham sido compostas por mim”, posiciona-se a compositora e cantora, que ainda destaca como os discos traduzem a sua trajetória: “Acompanhando os álbuns, do primeiro ao vigésimo primeiro, as pessoas conseguem entender a minha evolução musical. Você vê a diferença, a história, como vai se transformando… outros acordes foram aparecendo, outros interesses também. A minha identidade está nos meus discos”.

Pensado de forma gratuita e acessível a todos, o livro de partituras e letras pode ser baixado no site oficial da artista e é destinado ao público interessado em aprender a tocar suas canções e acompanhar sua trajetória, como ela mesma explica: “só quis fazer este trabalho quando entendi a dimensão que ele alcançaria. Quis disponibilizar esse meu acervo de graça, pois o público sempre consumiu tudo o que fiz e é ele que me faz ser muito tocada até hoje. Isso devo ao público que me ouviu e me prestigiou. Agora quero retribuir esse carinho e essa atenção com este presente”.

Capa do EP ‘Motim’, o mais recente trabalho de Marina Lima – Foto: Divulgação

Uma vez reunidos, assinados e entregues todos os 21 discos produzidos em mais de 40 anos de carreira, Marina encerra seu compromisso de lançar somente álbuns daqui em diante. E abre mão de trabalhar exclusivamente com esse formato fonográfico clássico passando a vislumbrar uma maior liberdade artística. “Agora parto para novos projetos. Projetos especiais: EPs, trilhas sonoras, singles… quem sabe até mesmo desenvolver um trabalho colaborativo que não tenha nem sequer o meu nome? Esses novos horizontes me interessam. Agora, deixar de fazer shows, jamais! Os shows são meu elo e contato com meu público Brasil afora”, pontua.

Com as partituras e letras já incluídas no livro “Marina Lima Música e Letra”, o EP Motim, recém lançado em formato exclusivamente digital, reúne quatro canções inéditas compostas no último ano. Sendo uma síntese do seu percurso musical, as novas composições exploram alguns dos pontos fundamentais de sua obra autoral, como sua relação com o violão (“Pelos apogeus”), sua vertente romântica pop (“Motim”), suas experiências pela música eletrônica (“Kilimanjaro”) e seu interesse pelo contemporâneo (“Nóis”).

Marina classifica este novo trabalho autoral como uma resposta ao contexto atual: “em um momento em que o mercado musical mudou totalmente, as pessoas não têm mais tempo nem interesse em ouvir oito, nove, dez canções seguidas. Muita informação entrou na vida das pessoas e ouvir um disco inteiro tornou-se algo raro. A única maneira de se reinventar diante disso é entender como o mercado funciona e partir para frente. De que adianta lançar 11 faixas se somente duas ou três entrarão em uma playlist?”, questiona.

Desses novos desafios, a cantora e compositora extrai um saldo positivo. “Confesso que adorei fazer um EP de 4 músicas, porque cada uma é muito forte em si. Quando você faz um EP, é como se cada música fosse um conto, cada uma tem seu valor”, reflete.

Produzido por Marina Lima e Alex Fonseca (com quem a cantora divide a autoria em uma das canções), o EP conta com parcerias com Alvin L. (vocal também em “Kilimanjaro”) e Giovanni Bizzotto. Como convidado especial, Mano Brown participa na faixa “Nóis”. “O Alex Fonseca faz parte de diferentes momentos da minha carreira e me conhece muito. Trabalhamos bem, com muita facilidade. Reencontrá-lo neste momento recluso de pandemia, quando o meu tempo estava totalmente dedicado à música, foi um acontecimento especial”.

A canção que abre o EP, “Pelos apogeus” (Marina Lima), é um retrato autobiográfico da sua trajetória. “É uma síntese da minha vida: da minha infância no Rio à minha ida aos Estados Unidos, da volta na adolescência à cidade carioca, à meia-idade, quando ocorreram coisas loucas e fascinantes também. E agora aos 65 anos, que pode ser considerado o inverno na vida de alguém, vejo meu inverno claro como o verão”. Em registro de voz e violão, a faixa expõe o lado violonista de Marina, inspirada por Luiz Bonfá, Baden Powell e Gilberto Gil, suas grandes referências.

Na sequência, a canção que nomeia o EP, “Motim” (Marina Lima/Giovanni Bizzotto/Alvin L.), é uma balada romântica que flerta com a linguagem pop desenvolvida por ela desde o início de sua carreira. “’Motim’ é uma grande balada sobre encontros e desencontros. É sobre alguém que cria uma paixão platônica. Adoro a ideia de que, quando você se apaixona, você pode viver aquela história ou não, pode deixá-la como uma ideia e nunca realizá-la, de preferência sem zoar ou sofrer, deixando a promessa no ar”. A canção surgiu de um estudo de violão passado a Marina por Giovanni Bizzotto, processo semelhante à parceria dos dois em “O chamado”. “Depois de ter pego alguns acordes e mesclado com uns meus, criei um dedilhado e chamei o Alvin L. para dividir a letra. É uma daquelas baladas que sei fazer bem, tem a minha assinatura”, destaca Marina.

Por sua vez, “Kilimanjaro” (Marina Lima/Alvin L./Alex Fonseca) mostra os caminhos eletrônicos desbravados por Marina e seu interesse em explorar novas formas de se fazer música, como ela comenta: “Estou fascinada por essa música, nunca havia feito algo similar. Ela é a junção de duas músicas, uma minha e outra do Alex, e com letra do Alvin L.. Quando a ouço, lembro da sensação que algumas músicas do Renato Russo ou de bandas como Radiohead e Beatles me passam. Imagino que quando se compõe em banda, algumas devam surgir assim”. De versos emblemáticos como “vou inventar um novo pecado/só pra poder estar ao seu lado”, a faixa, com vocais de Alvin L., narra a história de “um homem e uma mulher diferentes de tudo”.

Fechando o EP, “Nóis” (Marina Lima) fala do Brasil de agora, atravessado por uma pandemia, um governo reticente, mas também pela esperança de um povo sonhador. Música de caráter eletrônico, tem a participação especial de Mano Brown, com quem Marina já gostaria de trabalhar há dez anos. “Quando eu fiz essa música, pensei direto no Brown. Tivemos alguns encontros e quando ele gravou um vocalise na faixa, me acompanhando, fiquei profundamente emocionada. Sua voz é de um diamante e eu não fazia ideia de que ele também cantava tão bonito. Ele deixou sua marca e batizou a música”.

Pensando nas novas realidades de fruição e consumo musical, cada vez mais visuais, o EP ganhou um pacote audiovisual dirigido e concebido por Candé Salles e Renato Gonçalves. “Candé, além de ser um ótimo diretor e fotógrafo, me conhece bem e, por isso, me sinto muito à vontade com ele. Fruto dessa relação foi o documentário ‘Uma Garota Chamada Marina’, que ele fez. Algumas vezes, nem vejo que ele está me filmando, parece até meu alter ego”, afirma. Candé Salles e Renato Gonçalves ainda assinam, respectivamente, as fotos e o projeto gráfico do livro e do EP.

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