Ray Charles – Os 90 anos do pai do soul

É costume ouvir uma grande voz de cantor de soul music e supor que ele veio de uma igreja. Mas como isso teria começado. Nesta quarta (23) o precursor desta tradição, Ray Charles (1930-2004), estaria completando 90 anos. Foi ele o primeiro a levar a sonoridade gospel para dentro do blues e do jazz, inaugurando um gênero que viria a ser chamado de rhythm’n’blues. Mas Ray Charles Robinson, que encurtou o nome artístico para não ser confundido com o boxeador Sugar Ray Robinson, era um intérprete genial que foi muito além do R&B. Com sua voz potente e suingada, não se prendeu estilos gravando, além do soul, flertou com o jazz, esbanjou romantismo em baladas memoráveis e gravou hits do blues e da country music.

O sorriso largo e contagiante, uma das marcas pessoais de Ray Charles - Foto: Reprodução
O sorriso largo e contagiante, uma das marcas pessoais de Ray Charles – Foto: Reprodução

Ao contrário do que se imagina Ray Charles não nasceu cego. Perdeu a visão aos sete anos, em função de um glaucoma. Nascido na Georgia, mudou-se cedo para a Flórida com a mãe. Numa escola para cegos e surdos, aprendeu a escrever música e tocar vários instrumentos, entre o eles o saxofone, mas revelou uma grande sintonia com o piano.

Tocava e cantava em grupo religiosos nos anos 1940 mas, ao assinar seu primeiro contrato com uma gravadora, a Atlantic, em 1952 abraçou a música secular. O estouro de Elvis Presley e do rock & roll ajudou a projetar cantores negros como Chuck Berry e Little Richard. Ray Charles aproveitou a onda e emplacou sucessos como “I Got a Woman” – que o próprio Elvis gravaria anos depois – , e “Talkin About You”, “What I’d Say”, “Litle Girl of Mine” e “Hit the Road Jack”, entre outros. Essa junção de R&B e gospel nas músicas abriu o caminho para a soul music dos anos 60, a chamada geração Motown. Ouça aqui sua performance em Paris no ano de 1968 em Paris para o petardo “What I’d Say”, originalmente gravada em 1959:

E enquanto o soul virava uma febre naquela década, Ray Charles abraçava as canções que queria cantar. Entre seus sucessos históricos desta fase estão canções como “Unchain My Heart”, “Ruby”, “Cry Me a River”, “Georgia On My Mind” e baladas country tais como “Sweet Memories”, e seu maior sucesso comercial, “I Can’t Stop Loving You”, de 1962. Apesar de problemas com drogas que lhe prejudicaram a carreira, as interpretações de Ray Charles nunca caíram de nível. Carismático, era um gigante nos palcos. Seu último concerto no Festival Internacional de Jazz de Montréal, Canadá, em 2003, é antológico.
Mulherengo notório casou-se duas vezes e foi pai de 12 filhos dentro e fora dos casamentos. Antes de morrer, destinou US$ 1 milhão a cada um deles.

Cos sua personalidade carismática e sempre esbanjando bom humor, Ray Charles fazia sucesso onde quer que expusesse sua imagem. Brilhou na TV como garoto propaganda na Pepsi e fez propaganda até para uma marca de automóvel num comercial em que aparecia dirigindo um carro no deserto do Arizona. Veja aqui um dos mais populares anúncios feitos para a marca de refrigerantes em 1991:

Ray Charles também fez várias participações no cinema e uma das mais lembradas é sua presença num clássico da comédia, “The Blues Brothers”, traduzida para o Brasil como “Os Irmãos Cara de Pau” (19800, com direção de John Landis. A cena em que ele, Dan Ackroyd e John Belushi e banda em “Shake a Tail Feather” é memorável:

Sua vida inspirou o longa “Ray” (2004), com direção de Taylor Hackford. O genial músico foi vivido nas telas por Jamie Foxx, que conquistou o Oscar de melhor ator.  Assista aqui um documentário sobre Ray Charles produzido para a TV americana, em 1986, e com uma penca de depoimentos sobre sua inestimável contribuição para a música:

 

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