Produtor descarta inéditas de Renato Russo

Renato Russo

O produtor musical Carlos Trilha, que produziu os álbuns solo da carreira de Renato Russo, descartou a existência de canções inéditas do artista, morto em 1996. Através de suas redes sociais, ele afirmou que tudo o que existia de inédito na obra do cantor e compositor “já foi totalmente espremido”.

“Não existem músicas inéditas. Existem letras não usadas por Renato que estariam sendo musicadas por terceiros. As tais ‘versões inéditas’ de músicas que já existem é quase certo que sejam remixagens utilizando as vozes guia das faixas que possuíam este registro. (Renato odiaria isso)”, afirmou, ao falar da operação policial realizada na casa do pesquisador Marcelo Fróes na segunda-feira.

Trilha, que não foi alvo da operação, informou ainda que Renato Russo só gravou material em cinco estúdios ao longo de sua carreira – EMI, Impressão Digital, Discover, Som Livre e Ar.

De acordo com ele, as tais letras não usadas por Renato e que estariam sendo musicadas por terceiros teriam sido escolhidas por Fróes antes que a administração do espólio do artista fosse transferida para o filho do artista, Giuliano Manfredini, reconhecido pela Justiça como herdeiro dos direitos autorais.

Em entrevista ao site Splash, Fróes disse quer o “grande problema nessa história foi a falta de comunicação entre as pessoas, e a Justiça perde tempo com algo que não é de polícia”. “Não tinha nenhum crime, não tinha nenhum motivo pra isso. Eu sou pesquisador e todos sabem que eu tenho um acervo do Renato e do Legião, é de conhecimento público”, argumenta, protestando que a apreensão de seu telefone e computador o deixou sem ter como trabalhar.

Fróes foi amigo de Renato e produziu três trabalhos póstumos do cantor: “Renato Russo – Presente”, “O Trovador Solitário” e “Duetos”, este último lançado em 2010. É também dono da gravadora Discobertas, especializada em reedições históricas, lançamento de raridades e resgates.

Logo após a morte de Renato Russo, Fróes conta ter sido escolhido pela família e pelos integrantes da Legião Urbana para cuidar de todo o acervo. Fez o trabalho de pesquisa e catalogação, mas assegura que desde 2010 não mexe no conteúdo e que não tem contato com Giuliano desde então.

Autora do livro do “Discobiografia Legionária”, a jornalista e escritora Chris Fuscaldo vê na operação solicitada por Giuliano Manfredini um risco à liberdade de expressão e um tipo de censura. “Se o herdeiro do Renato Russo avançar com isso e sair vitorioso, abre um precedente que será péssimo para nós, jornalistas, escritores, documentaristas, produtores e etc. Mal comparando isso é tipo a proibição do livro do Roberto Carlos”, destacou em texto publicado em suas redes sociais. “Amanhã podem bater na minha casa alegando que, porque eu fiz um livro, ‘pode ser’ que eu tenha material inédito”, criticou.

Assim que assumiu o controle da obra do pai, Giuliano Manfredini desencadeou uma batalha judicial com os músicos Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá – remanescentes da Legião – para que estes deixassem de usar o nome do grupo em suas apresentações ao vivo. Também foi à Justiça contra uma tia, irmã de Renato, para impedir um leilão de objetos do artista que estavam em seu poder. Mas perdeu a ação.

Através de sua assessoria, Giuliano Manfredini disse que não fará comentários sobre a operação policial.

NOTA DA REDAÇÃO – Sem entrar no mérito criminal da questão, a advertência feita pela colega Chris Fuscaldo é grave. Vivemos em tempos em que se naturaliza que a polícia chegue com truculência à porta de profissionais que trabalham com a memória musical, um dos mais ricos patrimônios de nossa cultura , como se estes criminosos fossem. Defensor genuíno das liberdades civis e artísticas, Renato Russo estaria envergonhado com tanta virulência exercida em seu nome. Sua memória não merece isso.

 

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