Rodrigo Vellozo, um artista com cada lugar em sua coisa

O cantor, instrumentista e compositor Rodrigo Vellozo está com um novo CD. Seu mais recente trabalho é “Cada Lugar Na Sua Coisa” (2018), álbum em que considera estar mais livre para cantar por se dedicar menos aos arranjos e mesmo ao piano. Credita o êxito do processo criativo do trabalho à parceria com os produtores Marcus Preto e
Alexandre Fontanetti, que assinam as direções artística e musical.

A banda de apoio é a Cosmopolita, trazida por Fontanetti. O conjuto formado por Zé Ruivo (teclados, órgão e
piano elétrico), Gustavo Sato (baixo), Dani Andreotti (guitarras) e Bruno Tessele (bateria) é nitidamente entrosado a ponto de ter gravado as bases em dois dias de sessões em takes únicos como se estivesse numa apresentação ao vivo. Ouça o álbum completo aqui:

Um disco de cantor

A ideia era fazer um disco de cantor, mas que promovesse a junção do repertório e das ideias de arranjo do grupo com a voz de Rodrigo em muitas de suas possibilidades. Essa experiência é , de certa forma, comparável aos exercícios teatrais de construção de personagens. Até porque sua carreira de flui como um rio que se ramifica em dois leitos: a música e o teatro. Nunca o vi em cena, mas a audição de seu trabalho revela teatralidade. A voz de timbre peculiar se acomoda perfeitamente em cada camada melódica proposta. Sem qualquer exagero que a menção
à teatralidade possa sugerir. Fica só o sentimento.

No repertório de “Cada Lugar…”, “Farrapo Humano”, de Luiz Melodia, cai na malemolência do samba-funk. “Tão Fácil” (Marina / Antônio Cícero), canção não muito badalada da cantora e compositora que ditou rumos da do pop rock, vira um blues daqueles cantados em casa noturnas enfumaçadas. A faixa-título remete aos tempos da
censura mas soa atual por defender abertamente o direito de expressão dos artistas. “Livro de poesia na gaveta não adianta nada / lugar de poesia é na calçada”, já dizia o “maldito” Sérgio Sampaio, morto precocemente em 1994.

O paulista Maurício Pereira (ex-Mulheres Negras), um dos mais criativos compositores da atualidade, marca presença com “Tranquilo”. “Meus outros álbuns eram de samba e esse é o samba deste álbum. Fala sobre a liberdade de se ter mais de trinta anos. A gente fica mais tranquilo, menos ansioso”, justifica o cantor que mostra seu lado compositor em “Trágico” (parceria com Thiago Sak), “Alívio (com Xande de Pilares), “Mito” (com Anna
Toledo) e “You” (com Benito de Paula, seu pai).

Berço musical

Assim como Benito, Rodrigo adotou o piano como instrumento. Formou-se pelo pelo Conservatório Brasileiro de Música, graduou-se em composição popular na Berklee School Of Music, em Boston (EUA), e em teatro no Indac
(São Paulo). Também estudou canto embora sua relação com o ato de soltar a voz venha da infância remota, tendo em vista ser criado num lar musical. “Samba de Câmara” (2009) é o primeiro trabalho solo. Desde a infância, apresentou-se muita vezes com o pai. O segundo álbum, “Como é Bonito, Benito” (2013), era um tributo aos 40 anos de carreira do autor de “Retalhos de Cetim”, um dos maiores hits da MPB na década de 70.

Em tempos de modernidade, a discografia de Rodrigo Vellozo pode ser conferida, através de áudios e vídeos, nas diversas plataformas digitais, mas recomendo fortemente que, caso gostem, comprem os CDs do artista e o tratem com o devido carinho.

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