Rubah e a contestação que o rock precisa

Rubah Crédito Fernanda Ponzio

Em tempos difíceis em que o rock e alguns de seus expoentes flertam com discursos autoritários é confortante ouvir acordes dissonantes como os do cantor, compositor e guitarrista e mineiro Rubah em seu segundo EP “Libertad”. Durante a quarentena, o artista levou suas influências do punk e do hardcore reinventar canções de Lucio Battisti (Itália), Rodrigo Gonzalez (México), Silvio Rodriguez (Cuba) e da banda La Renga (Argentina).

“São músicas que compõem o meu gosto musical para além do rock. Gosto muito delas em suas versões originais, e estes artistas têm em comum a rebeldia, a estética inovadora e a liberdade como princípio. O resultado me surpreendeu no sentido de que percebi no final uma influência do rock, blues e indie rock dos anos 70 que não percebia no cotidiano”, revela.

Sobre o conservadorismo no rock, Rubah acredita tratar-se de um fenômeno muito mais alardeado do que o que de fato acontece. “Diante do caráter contestador do rock, o conservadorismo se torna uma aberração contrária a sua própria natureza. , Mas numericamente eu diria que existem menos roqueiros conservadores que em outros estilos musicais e proporcionalmente também. os amantes do rock sempre viveram no submundo da contracultura. Em resumo, o rock está velho, está novo e, mais que isso, está vivo!”, avalia o artista.
No entanto, Rubah reconhece que o gênero passa por momento desfavorável junto a mídia e ao mercado fonográfico. “Sinto que, como um estilo de contracultura, o rock sobrevive nos guetos, subterrâneo, como outros estilos, ainda tendo amantes de todas as idades. O estilo musical carregado de estilo de vida, nasceu e sobreviveu contestador, seja na musica, seja no comportamento, seja na estética. Para continuar sendo rock precisa retomar esta contestação para o momento vivido, contestação mais do que necessária”, insiste.

A busca de olhar global sobre problemas pessoais e singularmente humanos é uma preocupação de Rubah. “Este trabalho tem o desafio de colocar minha identidade musical,  em canções que gosto do ponto de vista harmônico, estético, histórico, das letras e trazer uma homenagem aos trabalhadores dos países onde foram compostas como forma de mensagem positiva – que apesar deste momento ruim, estamos vivos e seremos melhores no futuro”, comenta, ao falar do novo trabalho que você ouve aquiem episódio do podcast Faixa a Faixa com os comentários de Rubah para cada canção do álbum. “Libertad” foi produzido pelo próprio Rubah, com mixagem e masterização de Jorge Guerreiro, e participação dos músicos Rone Gomes de Freitas (guitarra), Lucas Junio (baixo) e Lucas Nunes (bateria):

Rubah é o nome artístico de Edgard Leite de Oliveira. O batismo é atribuído ao apelido dado por uma amiga iraniana que disse que ele teria rosto de rubah. Essa é uma palavra usada em alguns países da África e da Ásia referindo-se a lobos e cães de caça. Rubah foi vocalista e fundador da banda Misericore no fim dos anos 90, tendo gravado dois álbuns: “Cidadão Perfeito” (2001) e “Misericore” (2004). Também foi vocalista da M.E.KA. e baixista da DOPS, entre  2012 a 2015. Em 2019, partiu para carreira solo. Seu EP de estreia, “Encruzilhada”, teve voz, baixo e guitarra gravados no estúdio Delirio Graba em Buenos Aires, sob a direção musical com Ivan Caplan, produtor destacado por trabalhos no rock argentino.

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