Sambalanço, a bossa que dança

O título acima de original não tem nada. A Bossa que Dança é o nome de livro do jornalista e guru Tárik de Souza que conta sobre esse movimento musical de enorme brasilidade e que foi não exatamente um contraponto, mas um complemento suingado à Bossa Nova. Orlandivo, Ed Lincoln e Durval Ferreira foram os pioneiros do estilo que mesclou elementos do jazz, do samba, da bossa nova e da música latina. Um ritmo dançante com muita cadência, suingue, interpretação e divisões rítmicas de tirar o fôlego. Complexidades rítmicas à parte, os bailes promovidos pelas bandas de Orlandivo e de Ed Lincoln eram uma coqueluche nos anos 1950 e 1960 e influenciaram artistas como Miltinho, Elza Soares, Simonal, Emilio Santiago e Carlos Imperial. Filha de Durval Ferreira, a cantora e produtora Amanda Bravo e banda sobem ao palco do Teatro Rival nesta quinta-feira para celebrar o Sambalanço.

A banda de baile montada por Amanda reúne Zé Luiz Maia (baixo), Luiz Otavio (piano), Cesar Ferreira (violão), Rubinho Moreira (bateria), Jovi Joviniano (percussão), Carlos Moura ‘Sapão’ (sax e flauta) e Tino Jr. (sax e flauta). E um time de convidados especiais de primeira linha se juntarão à cantora e aos instrumentistas nesse tributo inesquecível. Leny Andrade, Dóris Monteiro, Áurea Martins, Quarteto do Rio (nome nome de Os Cariocas), Mauricio Einhorn, Victor Biglione e Osmar Milito são presenças confirmadas.

“Fico feliz de estrear esse espetáculo no Rival que foi o palco de muitos desses bailes”, comenta Amanda Bravo que selecionou para o repertório sucessos como Batida Diferente (Durval Ferreira e Mauricio Einhorn), Bolinha de Sabão (Orlandivo e Adilson Azevedo), Falaram Tanto de Você (Durval Ferreira e Orlandivo), Tamanco no Samba (Orlandivo e Helton Menezes), Estamos Aí (Durval Ferreira, Mauricio Einhorn e Regina Werneck), Tristeza de Nós Dois (Durval Ferreira, Mauricio Einhorn e Bebeto Castilho), Samba Toff / Sambadinho (Orlandivo).

Como o Brasil tem dificuldade em valorizar seu vasto patrimônio cultural, o sambalanço saiu de cena em meados dos anos 1970. Foi resgatado graças ao interesse de pesquisadores e fãs de outros países, sobretudo na Europa e no Japão. E também a artistas brasileiros das novas gerações, entre os quais Marco Mattoli, Amanda Bravo e Clara Moreno, além de pesquisadores como o próprio Tarik, Charles Gavin e outros.

Com um pé na Bossa Nova e no Sambalanço, o violonista e guitarrista Durval Ferreira se dividia entre o Tamba Trio (onde era o quarto elemento) e a banda do organista Ed Lincoln por onde passaram músicos como Marcio Montarroyos, Paulinho Trompete e Wilson das Neves. A diva Leny Andrade foi uma das cantoras do grupo que também revelou o talento de Emílio Santigo, na época um crooner de grande versatilidade.

Exemplos emblemáticos do estilo

Ouça abaixo dois álbuns representativos do sambalanço como A Volta (1964), de Ed Lincoln, e Batida Diferente (2004), de Durval Ferreira, uma pequena obra prima tardia com a participação de uma penca de instrumentistas do naipe de Nivaldo Ornelas, Mauro Senise, Marcio Montarroyos, Marcelo Martins, Robertinho Silva, Osmar Milito, Jorge Continentino, Luizão Maia e João Carlos Coutinho, entre outros.

Uma estética datada, mas com ritmo riquíssimo

Embalada por esta sonoridade desde pequena, Amanda se dedicou à pesquisar mais profundamente o estilo, seus intérpretes e compositores e sua história. Ainda atuou ao lado de Orlandivo em seus últimos dez anos de vida, num período em que o músico havia sido redescoberto pelas novas gerações. Parte desse repertório estará no CD que Amanda começou a gravar e deve ser concluído no próximo ano, coincidindo com um documentário do cineasta Fabiano Maciel. “Independente de sua qualidade musical, a estética do sambalanço não é atemporal. O ritmo é, mas a sonoridade do órgão deixa aquele cheirinho de passado, de coisa datada. Mas foi influenciador de vários artistas: até Roberto e Erasmo Carlos compuseram nessa linha no começo da Jovem Guarda”, recorda Amanda, que em janeiro lançou seu primeiro CD. saiba mais aqui.

Mais recentemente os paulistas do Clube do Balanço, o Favela Chic, Bossacucanova e Donatinho fizeram trabalhos com nítida inspiração do sambalanço. “O Marcelinho da Lua (Bosscaucanova) tem esse pegada e o Orlandivo gravou com eles Onde Anda o Meu Amor (Orlandivo e Roberto Jorge). O Donatinho também era um grande fá do Orlandivo que teve muitos de seus arranjos maravilhosos assinados pelo João Donato”, destaca Amanda. Ouça aqui Onde Anda o Meu Amor nas versãso de Orlandivo e na releitura do Bossacucanova, com participações de Orlandivo e Cris Delanno:

De fato, a sonoridade do órgão que brilhavam nos bailes do sambalanço pode remeter a algo antigo, mas  versão renovada de Onde Anda o Meu Amor mostra que o sambalanço ainda dá muito caldo. Que a boa música não se perca por modismos. Música boa

SERVIÇO

Sambalanço
Amanda Bravo convida Leny Andrade, Gilson Peranzzetta, Áurea Martins, Quarteto do Rio, Mauricio Einhorn, Dóris Monteiro, Victor Biglione e Osmar Milito
Teatro Rival Petrobras (Rua Álvaro Alvim, 33 – Centro)
01/08, às 19h30. Ingressos: R$ 60 e R$ 30

 

 

 

 

 

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