The Killers e a trip interiorana em ‘Pressure Machine’

The Killers
capa pressure machine the killers
Capa do álbum ‘Pressure Machine’. do The Killers

Ícone do indie rock americano do século 21, a banda The Killers lançou nesta sexta-feira 13 o álbum “Pressure Machine”, seu sétimo álbum de estúdio. Sorte nossa, pois trata-se de um discaço-aço-aço. O grupo volta a dividir a coprodução do trabalho com Shawn Everett e Jonathan Rado (da Foxygen), repetindo a parceria inaugurada no também aclamado “Imploding The Mirage”, lançado no ano passado.

A pandemia implodiu todo o trabalho promocional e a turnê mundial de álbum “Imploding the Mirage”. “Foi quando tudo parou”, resume o vocalista Brandon Flowers, antecipando a a essência de “Pressure Machine”. “E foi a primeira vez em muito tempo que me deparei com o silêncio. E a partir desse silêncio este disco começou a florescer, cheio de músicas que de outra forma seriam muito silenciosas e afogadas pelo barulho dos nossos discos mais típicos”, completa. No mesmo dia em que o novo álbum subiu às plataformas digitais, a banda lança o clipe da faixa “Quiet Town”:

E Brandon tem razão. Pela primeira vez desde 2004, toda a adrenalina e a pressão de integrar uma banda mundialmente conhecida, com turnês gigantescas e ruidosas por arenas mundo afora pausou. Parou literalmente. Reflexo de novos tempos, de interiorização de sentimentos e emoções, “Pressure Machine” retrata a visão da realidade cotidiana de uma pequena cidade americana onde o tempo parece ter uma rotação diferente e o The Killers oferece ao público seu trabalho mais comedido, como avisa Brandon.

O calmo “Pressure Machine” é baseado em personagens da cidade natal de Brandon Flowers: Nephi, uma comunidade de 5.300 pessoas no estado de Utah, um lugar sem sinais de trânsito, com uma seringueira, campos de trigo e a faculdade West Hills. Nephi é o lugar onde o cantor viveu dos 10 aos 16 anos. “Se não fossem os avanços na indústria automotiva, Nephi nos anos 90 poderia ter sido a década de 50”, compara o líder do The Killers, hoje habituado a tocar para plateias dezenas de vezes maiores que a cidadezinha do Meio-Oeste americano. As canções do álbum são baseadas nas memórias e histórias de pessoas que impactaram o crescimento do jovem Brandon e vem intercaladas com comentários dos atuais habitantes da pequena cidade.

Preso no meio do nada

“Eu e Brandon estávamos conversando sobre a época em que ele se mudou para Nephi quando criança e ficou preso no meio do nada. Durante a covid-19, começou a parecer que estávamos todos no meio do nada”, destaca o baterista da banda, Ronnie Vannucci Jr. A capa do álbum reflete essa atmosfera. A imagem foi capturada pelo fotógrafo Wes Johnson na rodovia perto de Nephi.

“Descobri esta dor com a qual não tinha lidado. Muitas lembranças do meu tempo em Nephi são ternas. Mas as ligadas ao medo ou a uma grande tristeza são emocionalmente fortes. Tenho mais compreensão agora do que quando começamos a banda. E espero ter conseguido fazer justiça a essas histórias e vidas nesta cidadezinha em que cresci”, arremata o cantor e letrista do The Killers.

Pela primeira vez em sua vida, Brandon tinha letras completas antes que uma nota musical fosse gravada. Não é estranho habitar diferentes personagens em canções, mas em “Pressure Machine” ele se coloca no lugar de algumas das pessoas cujas vidas ele assistiu se desenrolar quando adolescente. E provavelmente por tratar de um microcosmo tão específico e tão americano a sonoridade de “Pressure Machine” remete muito a Bruce Springsteen que, aliás, gravou um single com Brandon e o The Killers no início do ano. 

Falando por esses personagens improváveis para uma banda de rock, “Pressure Machine” toca nas pressões inflexíveis do chamado sonho americano agravado pelo desencanto religioso, uma temática bastante utilizada pelo próprio Springsteen, conhecido por ser um trovador que fala fundo à alma do povo americano. Um otimismo contido e lírico florescem a partir das canções de Flowers em paisagens tão interioranas como a alegria com a chegada do verão, a primeira colheita de feno e céus menos carregados no horizonte.

As histórias de “Pressure Machine”, acrescenta Brandon, detalham batalhas pessoais da vida real, arrependimentos, tragédias locais. The Killers fala sobre as escolhas que as pessoas fazem, para o melhor e para o pior, e as consequências dessas escolhas; as que foram deixadas para trás e aquilo que não pode ser esquecido.
O grupo aguarda a retomada da normalidade para voltar à estradada numa turnê diferente, que vai tanto apresentar o repertório de “Pressure Machine” quanto o de “Imploding The Mirage”. As datas dos shows no Reino Unido, originalmente previstas para o verão de 2020, foram adiadas para maio do próximo ano.

Com mais de 17 milhões de ouvintes mensais no Spotify e dono de sucessos incontestáveis, como “Mr. Brightside”, “When You Were Young” e “Somebody Told Me”, o The Killers é uma das principais bandas de rock alternativo do mundo.

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