Por Ricardo Cravo Albin
Especial para Na Caixa de CD
O sentido título desde mini requiém remete a dois motivos. O primeiro sequer carece explicação porque o Serjão aí não é senão explícita homenagem à mais bela obra dele, “Zelão” , um grito social em plena platitude de céu, montanha e mar do começo da Bossa Nova. Serjão era como eu chamava Sérgio Ricardo por mais de cinco décadas. Pela admiração pelo seu antológico Zelão, o sambista morto no carnaval.
Meu Serjão não morre no Carnaval. E não será todo morro que chora por ele. Somos todos nós. Testemunhas da extraordinária diversidade de sua obra.
Quando presidi a Embrafilme premiei Sérgio Ricardo com duas Corujas de Ouro. E enviei seu belíssimo (e injustiçado) longa, um raro musical no cinema brasileiro “Juliana do Amor Perdido” para muitos festivais internacionais.
Acode-me agorinha mesmo da alegria do Sérgio Ricardo quando lhe disse que um famoso crítico francês declarou que o Brasil deveria trilhar a Linha dos musicais de “Juliana” por sua música esplendorosa. E concluía: mais musicais e menos sertão. Propunha esquecer o cangaço então em plena voga. Choro meu Serjão por toda sua importante filmografia e sua inestimável obra musical.
Choro meu Serjão por sua pintura e sua resistência. Choro meu Serjão por sua fidelidade às ideias generosas ao lado dos reclamos e injustiças tanto ao país quanto. à miséria de seu povo. Por fim , choro meu Serjão por seu poema sinfônico “João e Maria”, obra-prima até hoje menos conhecida que tive a honra de viabilizar no Teatro Municipal com cada um de seus cinco movimentos cantados por cinco dos maiores cantores deste injusto país, liderados por Chico Buarque.
Choro sim e muito pela luz que agora se apaga, um dos maiores artistas do Brasil. Que ficou a dever a ele mais reconhecimento e mais consagração.