Tributo a Luiz Eça agora chega em DVD ao vivo

Igor Eça, Zé Renato, Edu Lobo< Dori Caymmi e Toninho Horta
Capa do DVD Em casa com Luiz Eça – ao vivo

Em dias de quarentena, a gravadora Biscoito Fino decidiu disponibilizar um DVD na íntegra em seu canal YouTube e no Facebook Whatch antes mesmo que ele chegue às lojas físicas. Estamos falando do registro ao vivo do show “Em casa com Luiz Eça”, idealizado por Igor Eça, filho do pianista, com a participação de músicos de primeira grandeza como Edu Lobo, Dori Caymmi, Toninho Horta e Zé Renato.

Gravado em 25 de abril de 2017 no palco do Theatro Net Rio (agora Teatro Claro), o projeto nasceu como álbum de estúdio, lançado no mesmo ano, pela Biscoito. Adaptado para o palco, o espetáculo ganhou roteiro e direção de Dulce Lobo, Hugo Sukman e de Igor Eça, idealizador e co-diretor musical, ao lado de Itamar Assiere. A banda formada para o tributo tem ainda Itamar Assiere (piano), Mauro Senise (saxes e flauta), Jurim Moreira e Ricardo Costa nas baterias.

“Luiz Eça é o pai de toda uma geração de ouro da música brasileira. Muito mais que um grande pianista e arranjador, foi um mentor de vários ídolos nossos. Meu primeiro contato com sua música foi quando eu era criança e ganhei de uma tia o LP Antologia do Piano. Ela sabia que eu tinha começado a estudar piano e me deu esse disco. Meu breve contato com ele foi uma oficina de improvisação nas férias da Escola de Música da UFRJ em 1988, onde eu estudava. A oficina durou cinco dias e foi muito importante ver de perto a visão musical do Luiz”, relebra Itamar Assiere, que se encheu de orgulho por receber de Igor Eça e Dulce Lobo o convite para representar o mestre nesse tributo, ao lado de artistas como Zé Renato, Dori Caymmi, Toninho Horta e Edu Lobo. “Luiz Eça merece ser homenageado sempre, e suas composições têm que ser tiradas da gaveta e ganhar o mundo novamente”, defende Assiere, destacando que Eça foi um dos três únicos compositores brasileiros que Bill Evans gravou – os outros foram Francis Hime (“Minha”) e Tom Jobim (“Chora Coração”).

Um dos roteiristas do espetáculo, o jornalista Hugo Sukman lembra que a casa de Luiz Eça, no Leblon, funcionava como um oráculo de portas constantemente abertas e com um piano ao centro da sala: “E sentado diante dele um menino da noite, um músico constantemente entusiasmado, incansável, como se redescobrisse a música a cada acorde, a cada tema novo – seu ou dos outros – que surgisse”.

E quanto mais ele recebia visitas de jovens artistas mais lucrava a música popular brasileira. Aos 22 anos, Edu Lobo chegou à casa de Luiz Eça com uma dúzia de canções espetaculares para um compositor de qualquer idade. “Saiu de lá com o seu primeiro e revolucionário disco arranjado. E com a maior aula de música (e de vida) que poderia haver”, comenta Sukman.

Foi assim também com um certo Dorival Caymmi Filho que, mesmo sendo cria de um dos gigantes da MPB, aceitou ser copista dos arranjos que Luiz Eça faria para seu próximo disco. E assim Dori mergulhou nas notas e acordes de ‘Luiz Eça e cordas’ que, para muitos, trata-se do maior disco instrumental já gravado no Brasil. “Dori juntou o berço, o talento próprio e essa inestimável aula de música e de vida para tornar-se, além do grande compositor, um dos maiores arranjadores do mundo”, destaca Sukman.

Toninho Horta era outro que não saía da casa do Leblon e dos estúdios em que Luiz Eça gravasse. O pianista era admirador confesso dos caminhos harmônicos da guitarra do músico mineiro. “Dessa parceria nasceu muita gravação e o arranjo mais lindo, de uma das mais lindas canções, ‘Beijo partido’ pelo Tamba Trio”, recorda o jornalista.

Zé Renato conta tera passado uma noite na casa do velho mestre. Nunca trabalharam juntos, mas o cantor e compositor paga por essa lacuna com juros e correção num trabalho de clima caseiro e pessoal. O primeiro tema que todos gravaram juntos, “Tamba”, nem precisou de ensaio. Todos eram tão íntimos da música gravada originalmente no primeiro disco do Tamba Trio, em 1962, que bastou meia dúzia de olhares e ajustes para que se gravasse em 15 minutos. “Eles tinham o arranjo original no ouvido e no coração”, resume Sukman.

Além de recriar os principais temas de Luiz Eça por seus filhos musicais, “Em casa com Luiz Eça”, que está sendo lançado nos formatos DVD físico e álbum digital, corrige lacunas históricas deixadas pela dinâmica muito própria de quem tocava na noite, ou seja, resgata uma atmosfera que poucos (muito poucos mesmo) presenciaram. Nesse clima, os amigos vão se revezando nos temas. “Não desejei um disco recheado de participações especiais. Pensei mas no formato de sarau”, conta Igor Eça, que seguiu fielmente os arranjos originais do pai. E a formação que ele mais gostava de trabalhar – consagrada no Tamba Trio – a bateria, com dois mestres do instrumento Ricardo Costa e Jurim Moreira; o baixo pelo próprio Igor, e o piano de Itamar Assiere, que encarou a mais dura missão de todo o trabalho.

Mas o mais bonito é, de repente, enquanto Igor canta a sua canção nova em homenagem ao pai, “Menino da noite”, parceria com Paulo César Pinheiro, Dori virar para Edu, emocionado. “Estou ouvindo a voz do Luizinho…”. Como se estivessem – e estão – numa daquelas noites sem fim na casa à beira do velho canal do Leblon. Confira aqui esse trabalho de sensibilidade na íntegra:

Em tempo, a Biscoito Fino informa que, além desse lançamento, vai  disponibilizar gratuitamente, a partir deste fim de semana, vários shows lançados no formato DVD. São registros ao vivo de nomes como Chico Buarque, Gal Costa, Alcione, Maria Bethânia e Zeca Pagodinho, entre outros. Todos  estarão disponíveis no canal YouTube da gravadora, sempre ao meio dia.

 

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