Tunai celebra 40 anos de carreira com gravação de DVD

O cantor e compositor Tunai

Para celebrar seus 40 anos de carreira, o cantor e compositor Tunai sobe o palco do Vivo Rio neste sábado (2) para registrar em DVD uma síntese de seu trabalho que teve início quando em 1979 quando Elis Regina incluiu a belíssima As Aparências Enganam (Tunai / Sérgio Natureza) no repertório do álbum Essa Mulher. E assim José Antônio de Freitas Mucci, o irmão mais novo de João Bosco (também adotado por Elis alguns anos antes) trocou de vez o trabalho como engenheiro para dedicar-se à música.

capa do album Essa Mulher
Capa do ábum “Essa Mulher”, de Elis Regina na qual Tunai faz sua estreia como compositor – Foto: Reprodução

O sucesso imediato desta canção, uma das mais emblemáticas interpretações de Elis, despertou o interesse sobre esse mineiro de Ponte Nova que nos anos seguintes passaria a compor para Milton Nascimento (também seu parceiro em Certas Canções, Rádio Experiência e Mar do Nosso Amor), Nana Caymmi, Gal Costa, Zizi Possi, Simone, Jane Duboc, Elba Ramalho, Ivete Sangalo, Emílio Santiago, Maria Rita, Ney Matogrosso, Beto Guedes, Fafá de Belém e Sérgio Mendes, entre outros.

Romantismo com requinte poético e melódico

Mas sua obra também ganharia luz sob sua própria voz e novos hits viriam como Eternamente (Tunai/Sérgio Natureza/Liliane), Frisson (Tunai/Sérgio Nat​ureza), Olhos do Coração (Tunai/Sérgio Nat​ureza), Trovoada (Tunai/Sérgio Nat​ureza), Sintonia (Tunai/Sérgio Nat​ureza) e Sobrou pra Mim (Tunai). Musicalmente, não se prendeu a nenhum estilo específico. Amante declarado do blues, compôs também baladas que se tornaram extremamente populares nos anos 1980 – um romantismo com requinte poético e melódico que não resvalava para o piegas como hoje em dia.

Curiosamente, boa parte dessa interessante produção ficou de fora do mercado fonográfico por anos. A discografia mais remota de Tunai, iniciada em 1981 com o vinil Todos os Tons não fora relançada em CD por sua gravadora na época, a Polygram. Com a revolução digital e chegada dos canais de streaming, esses álbuns não chegaram de imediato às plataformas digitais. “Busquei na Justiça um acordo com a gravadora de forma a obter esses fonogramas para digitalização”, comemora o artista, hoje aos 68 anos, que desta forma reaproxima-se do grande público. Tanto que seu maior sucesso Frisson, gravado originalmente no álbum Em Cartaz… (1984) já possui a marca de 612.382  audições no Spotify (parcial de 31/10/2019) desde que foi incluída na plataforma. É a mais executada do artista tanto na versão de estúdio quanto em registro ao vivo no álbum acústico Certas Canções (2000). Já foi gravada por Elba Ramalho, Roupa Nova e neste ano, inclusive, ganhou releitura em formato reggae sob arranjo e interpretação do cantor e guitarrista Da Ghama (ex-Cidade Negra).

Em lua de mel com as novas mídias digitais, Tunai, como bim mineiro, sabe quando um cavalo passa pedindo montaria e acaba de disponibilizar em seu site oficial um link do Spotify com a playlist do repertório da apresentação que fará no show Tunai – 40 Anos Agora terá o auxílio luxuoso dos músicos Wagner Tiso (piano e teclados), Kadu Lamback (guitarra), Francisco Falcon (baixo), Dodô Moraes (teclados e acordeon), Bruno F (bateria) e Felipe Tauil (percussão). Além dos grandes sucessos, haverá espaço para as criações de Caderno de Lembranças (2019), seu trabalho mais recente lançado de forma independente – o último álbum de inéditos era Dança das Cadeiras, de 2004).

Tunai recolhe relíquias do baú de composições

Capa do CD Caderno de Lembranças, do cantor e compositor Tunai
Capa do CD “Caderno de Lembranças”, do cantor e compositor Tunai – Foto: Reprodução

Caderno de Lembranças foi gravado no início do ano tendo disso foi idealizado e produzido por Tunai, que reponde pela direção musical e arranjos, todos o violão com âncora melódica. O instrumentista conta que reveza quatro instrumentos nas gravações: um Washburn EC41N 90’s, uma guitarra acústica Gibson Chet Atkins 1979, um Di Giorgio Fora de Série 1976 e um San Lorenzo 1946. E é acompanhado pelos músicos Francisco Falcon (baixo), Roberto Alemão (bateria e percussão), Victor Biglione (guitarra), Dodô Moraes (piano e teclado), Rony Barrak (percussão) e o velho amigo Wagner Tiso (órgão e piano), que colabora em quatro faixas.

Embora o álbum tenha nove canções inéditas chama-se Caderno de Lembranças por reunir relíquias de seu baú – apenas Solidão Blues foi feita em janeiro a partir do poema que recebeu de um novo parceiro, Marcos Moussalen. A mais antiga é Nuances, de 1979, musicada a partir de um poema da escritora Thaís Guimarães. Do frequente parceiro Sérgio Natureza, Tunai foi buscar em seus baú de afetos Maior que a Vida (2008) e Mãe das Mães (2013), hino religioso mirando a Jornada Mundial da Juventude realizada no Rio naquele mesmo ano. A faixa-título estava guardada desde 2010. “Agora, como uma das folhas arrancadas, a balada sintetiza conceito e espírito do disco, sensações eternas, que tempo algum apaga”, define com exatidão o jornalista e crítico Antônio Carlos Miguel.

Compondo fora da zona de conforto

Por três momentos, o compositor afasta-se de sua zona de conforto melódica para compor um bolero (Você Olha, feito com o letrista Claudio Rabello em 2004), um samba (Entre o Anjo e a Serpente, parceria com o amigo e vizinho de bairro Carlos Colla, em 2008) e um xote (Vício de Amar, a partir de um poema de Salgado Maranhão).

A indignação do artista com os tempos obscuros em que vivemos está no blues-rock Bala Perdida (Tunai), lançada no ano passado nas plataformas. A versão do álbum foi editada (encurtada) para tocar nas rádios.

Completam o trabalho uma homenagem ao irmão com uma releitura da bela Corsário (João Bosco e Aldir Blanc) e duas faixas ao vivo extraídas de um show no Sesc Taubaté (SP) durante a passagem da turnê e tributo a Elis Regina que ele tem feito em duo com Wagner Tiso desde 2012: As Aparências Enganam, Certas Canções e outro clássico do repertório de sua madrinha, Maria, Maria (Milton Nascimento e Fernando Brant).

Assista aqui uma ótima conversa de Tunai com o violonista Nelson Faria em seu programa “Um Café Lá em casa”:

Serviço

Tunai – 40 Anos Agora
Vivo Rio (Av. Infante Dom Henrique, 85 – Parque do Flamengo)
2/11 a partir das 21h (abertura da casa às 19h30).
Ingressos: R$ 160 (Setor Vip), R$ 140 (Setor 1), R$ 100 (Setor 3) e E$ 120 (Setor 2)

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