Agenor, Agostinho e Léo e o carimbó pop

Agenor, Agostinho e Léo 1_Crédito Hannah G
Agenor, Agostinho e Leo - Capa
Capa do álbum ‘Agenor, Agostinho e Leo’

Formado por veteranos do indie amazonense, o trio Agenor, Agostinho e Léo é uma boa aposta para quem deseja conhecer a cena musical da Região Norte, que tem vida própria e raramente alcança outros centros. Os integrantes do grupo entendem que estão consolidando suas carreiras com esta proposta de caldeirão expressa em seu homônimo disco de estreia, já disponível nas plataformas digitais.

Unindo influências e sonoridades que abordaram em todos os momentos da jornada pessoal dos músicos Agenor Vasconcelos (baixo e voz), Agostinho Guerreiro (guitarras) e Léo Moraes (bateria). O trabalho une do rock ao pop, do carimbó ao dancehall para valorizar as suas raízes de forma festiva.

Após 10 anos de criação e produção da banda Alaídenegão, Agenor formou um novo grupo ao lado de Agostinho e Léo, músicos de renomados projetos na cena musical do Amazonas.

O trio, que também tem o projeto carnavalesco Bloco da Cobra Grande, antecipou o novo álbum com o single e clipe para o indie brega pop “Juruparylson”. A música recorre à mitologia da tribo Tukano que nos ensina que o primeiro humano foi o indígena Jurupary. Ele era conhecedor de toda a natureza, de todos os cantos da floresta e sabia fazer festa. A lenda conta que seu corpo era feito por instrumentos, seus braços eram flautas kariçu e suas pernas flautas jurupary. Foi ele quem ensinou o que era música aos indígenas. Foi chamado de demônio por missionários católicos que chegaram à região para impor sua religião em detrimento da cultura milenar dos povos originais e que tratavam a cultura indígena como sendo ruim e perigosa. Juruparylson seria um distante descendente punk do índio martirizado cujo clipe você vê aqui:

“Além da visão musical, queremos trazer para o disco a experiência de vida que acumulamos nesse caminho. Então ele fala sobre estudos, trabalho e eventos das noites do Norte do país, especialmente a manauara. Conta a história de nossos feitiços, pussangas e pensamentos positivos para seguirmos firmes na música, levando alegria e satisfação para o público. Traz em seu conceito elementos da cultura indígena e da cultura popular, projetando o futuro dessas cosmologias para nossos instrumentos musicais, clipes e faixas. Trabalhamos a relação entre Bahsakawii (casa da música em língua indígena Tukano) e o salão de dança (o dancehall). Também trabalhamos elementos e traços característicos do xamanismo amazônico. Tudo isso com pitadas de humor e leveza de movimento”, destaca Agenor, que produziu e mixou as 15 faixas do álbum.

O trabalho autoral do trio tem os pés fincados no humor, como na faixa “A Comunista”, música e letra de Agenor, que fala de uma mulher empoderada que assusta possíveis pretendentes. “Falava da precarização / Usava um batom vermelho / Tattoo de estrela no dedo / Para mostrar ao querido / Interessado, dos muitos que a queixava / A playboyzada assustava / A gata é comunista”, diz a divertida canção.

O trio amazonense Agenor, Aostinho e Léo que descontruir estereótipos associados à cultura indígena – Fotos: Hanna Gonçalves

A identidade cultural do povo amazonense também se faz presente no trabalho como na canção “Estudo sobre o xamanismo” (“Uma pedra no meu olho / Um lance no meu ouvido / Que vem do meu parente mais antigo / Que me ensinou os movimentos / Que neutralizam o inimigo / E faz o nosso grupo crescer unido”).

Antropólogo de formação, Agenor conta que no período que antecedeu a formação do trio ele passou um período de trabalho de campo no município de São Gabriel da Cachoeira, cidade com a maior população indígena do país. “A gente conta uma história que é milenar e pensa na música indígena em outra ótica, não necessariamente preso naquele ei, ei, rá, rá. Nós vamos destruindo esses estereótipos”, diz o músico, acrescentando que os arranjos das músicas são feitos usando esses conhecimentos tradicionais, mas também do pop, do rock e do reggae e até da cumbia latina.

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