Amanda Bravo lança CD ‘A Bossa do Beco’

Produtora e diretora artística do Beco das Garrafas, a cantora Amanda Bravo apresenta nesta quinta-feira (17), às 21h, na Sala Baden Powell, o show de lançamento de seu CD de estreia, A Bossa do Beco. O trabalho, que você pode ouvir aqui, é fruto de três anos de seguidas apresentações que ela fez na casa onde nasceu o gênero que cultua há anos e anos, ou seja, um show que foi parar no estúdio. “De repente, me vi cantora. Tudo começou de forma bem despretensiosa quando, ainda menina, arranhava o violão do meu pai. A brincadeira foi aumentando à medida que ia entrando em contato com aquela atmosfera criativa, aquele tempo passado no estúdio, a interação com outros músicos”, conta Amanda, referindo-se ao violonista Durval Ferreira (1935/2007).

Autor de sucessos do gênero como Estamos Aí, Batida Diferente e Tristeza de Nós Dois, Durval acompanhou a
cantora Leny Andrade, tocou Tamba Trio, no conjunto de Ed Lincoln, esteve com Sérgio Mendes no show do Carneggie Hall, em 1962, e apresentou-se com o saxofonista americano Cannonball Adderley. Nos últimos 30 anos de vida, dedicava-se à produção de discos comerciais. Foi o responsável por lançar no mercado nomes como os de Emílio Santiago, Joanna e Sandra de Sá.

Padrinhos ilustres

A familiaridade com a batida que revolucionou a música nos anos 1950 levou essa cantora temporã a ser padrinhada
em seu primeiro trabalho por nomes como Roberto Menescal, João Donato, Marcos Valle e Bebeto Castilho, do Tamba Trio. “O CD está uma coisa. Amanda tem uma voz bem bossanovinha”, elogia Donato.

No palco, Amanda estará escoltada por um time de músicos experientes: Zé Luiz Maia (baixo e direção musical), César Ferreira (violão), Luiz Otávio (piano) e Rubinho Moreira (bateria). César é sobrinho de Durval Ferreira e, segundo Amanda,”o herdeiro da batida do meu pai”. Rubinho também tocava com Durval e o jovem Luiz Otávio é um dos mais brilhantes pianistas de geração já com traquejo de veterano. O grupo apresentará as 11 faixas do CD e também prestará um merecido tributo a artistas que fizeram história na MPB, tais como Jorge Ben Jor, Dolores Durán, Billy Blanco, Elis Regina, Sergio Mendes. Em comum, todos passaram pelo palco do Beco das Garrafas, casa atualmente administrada por Amanda.

A “insanidade” de lançar um álbum físico em pleno apogeu da veiculação de músicas nas plataformas digitais tem
uma explicação. “Boa parte dos frequentadores do Beco é formada por turistas e sempre existiu o interesse deles de levar uma lembrança da experiência que tiveram, um registro dos músicos que lá se apresentam”, argumenta Amanda, que toca com a banda toda sexta-feira no local, onde se realizam em média cerca de 90 shows por mês.

A ideia do CD, revela a cantora, partiu de Zé Luis Maia, filho do lendário baixista Luizão Maia e ganhou uma dimen-
são que surpreendeu a própria Amanda. “Pensávamos em gravar num estúdio caseiro sem grandes pretensões, mas
surgiu a possibilidade de gravar num estúdio totalmente analógico (Castelo Studio, em Niterói), onde meu pai sempre gravou, e foi possível reconstituir uma sonoridade típica dos álbuns dos anos setenta. Um som maravilhoso”, emociona-se. Um detalhe curioso é a embalagem do CD, com dimensões de uma capa de compacto em vinil e o disco todo pintado de preto com um sello centralizado à feição das antigas e queridas bolachas de acetato. “Esse formato retrô permitiu que pudéssemos produzir um encarte maior, que as pessoas conseguem ler”, ironiza, elogiando a arte concebida pelo designer e músico Haroldo Cazes.

Para abençoar esse primeiro álbum, Amanda conseguiu a participação especial de Roberto Menescal em Barquinho: “Ele colocou um violão lindo”, comemora. Bebeto Castilho toca flauta em Os Grilos, parceria dos irmãos Marcos e Paulo Sérgio Valle.

 Tecnologia e reencontro

Mas nesse álbum de afetos, a participação especial mais tocante acabou sendo os registros de gravações antigas
de Durval Ferreira resgatadas para as canções E Nada Mais, Chega de Saudade. “Foi um encontro emocionante que a tecnologia permitiu. Durante a fase de mixagem do álbum, o Luigi Hoffer sempre repetia que sentia a presença do meu pai no estúdio”, recorda a cantora, que prepara para 2020 o lançamento de um CD em tributo ao movimento do Sambalanço do qual seu pai fez parte. Leia mais aqui.

Todos esse detalhes, destaca a cantora, foram levantando o disco. “Conseguimos trazer o astral bom do carioca, do
amor, do sorriso, da flor. Ao contrário do que muitos dizem, a Bossa Nova não passou e o disco e o show estão aqui
exatamente para mostrar isso. Estou muito orgulhosa dele. E foram muitas mãos que se deram para abraçar este projeto”, agradece.

Mesmo empolgada com o resultado do trabalho, Amanda não abre mão do senso crítico. “Até pela minha
trajetória como produtora, sou muita exigente. Meu pai também era assim, tanto que levou 50 anos para gravar um
disco, o único trabalho solo dele”, compara, referindo-se ao álbum Batida Diferente, de 2004.

Além de clássicos como Você e Eu, Saudade Fez um Samba e “A Rã, o CD A Bossa do Beco traz o registro da inédita Outro Abraço no Donato, um tema instrumental de Durval Ferreira que recebeu letra de Lysias Ênio, irmão e parceiro de João Donato. “Peguei esta melodia do meu pai e pedi ao Lysias uma letra que mostrasse a relação dele com o João. Saiu uma letra muito carinhosa e sentimental”, antecipa.

Ainda na safra de novas composições, estão Asa Delta, parceria de Baden Powell com o filho Phillipe Baden Powell
e Lula Freire. I Love You e Samba Novo, ambas de Durval Ferreira, e Batuque (“um sambinha Bossa Nova
do Lysias”) ganham novas roupagens e mais frescor, tanto nos arranjos como na voz limpa e bem carioca desta garota de Copacabana.

Serviço
Amanda Bravo – Show de lançamento do CD A Bossa do Beco
Sala Baden Powell (Av. N. S. de Copacabana, 360 – Tel: 2547-9147)
17/1, a partir das 21h. Ingressos: R$ 60 e R$ 30.

*Publicada em 17/1 no Jornal do Brasil

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