Ana Cañas e uma releitura especial para Belchior

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Capa do álbum ‘Ana Cañas Canta Belchior’

Em julho de 2020, no auge da pandemia, a cantora e compositora Ana Cañas fez uma live dedicada ao repertório de Belchior. O que era para ser um experimento tornou-se sucesso instantâneo com meio milhão de visualizações no YouTube e penca de pedidos para gravar as canções do bardo cearense em estúdio.

Sem dinheiro para bancar o projeto, Ana recorreu ao financiamento coletivo e conseguiu os recursos para lançar no fim de outubro, mês em que Belchior completaria 75 anos de vida o álbum “Ana Cañas Canta Belchior”.

O compositor de “Como Nossos Pais”, “Velha Roupa Colorida” e “Paralelas” teve canções gravadas por grandes vozes femininas, como Elis Regina, e essas referências naturalmente não passam em branco para uma intérprete do século 21. Mas Ana achou sua própria linguagem para resgatar 14 faixas que prezam que oscilam entre a sutileza e ia profundidade dos versos incomodados de Belchior.

“Coração Selvagem”, a faixa de abertura, despeja força e feminilidade em nossos ouvidos. O desejo dá o tom. Sucessos como “Sujeito de Sorte”, “Paralelas”, “Alucinação”, “Velha Roupa Colorida” e “Como Nossos Pais” também ganham o sotaque de Ana, uma intérprete singular e versátil.

Há também, releituras de obras mais lado B de como “Na Hora do Almoço”, “Comentários a Respeito de John” e “Galos, Noites e Quintais”. Os arranjos assinados por Ana e Fabá Jimenez são descomplicados e plenos em contemporaneidade, provando mais uma vez que Belchior não tem uma obra datada.

“Acho que o fato de ter poucos elementos acaba por ressaltar a voz, a interpretação. E esse foi o desafio. As músicas versam geralmente sobre paixão, catarse e reflexão social. Exige uma compreensão ampla das camadas do coletivo e suas intersecções. Apesar de muitas metáforas e poesia, também traz uma literatura direta e acessível. É um universo complexo e há que se despir para mergulhar nele”, analisa Ana.

Toda a história deste projeto, diz Ana, é especial, assim como o resultado. “Sinto que uma voz feminina relendo um clássico da música popular brasileira é como um portal. Novos sentimentos e olhares. Cresci ouvindo Elis, Gal e Bethânia fazendo isso como ninguém e redirecionando músicas (escritas geralmente por homens) em versões definitivas. Porque mulheres têm um abismo singular, conhecem cerceamento e opressão de forma única e isso é traduzido no canto com uma força peculiar”, defende a intérprete.

E as faixas ganharam registros e visuais dirigidos por Ariela Bueno. “A ideia foi trazer uma espécie de disco visual e aproximar o público do making of, para que as pessoas possam conhecer os meandros das gravações e bastidores do projeto. “O de “Como Nossos Pais”, por exemplo é o real take do disco, algo muito raro de conseguir e calhou de a diretora estar dentro na cabine de gravação quando fiz o take que escolhemos para o álbum, um momento bastante especial”, conta Ana.

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