Astor Piazzola e seu regionalismo universal

Muitas vezes na arte o regionalismo é carregado das mais fortes e genuínas manifestações de globalidade. Fernando Pessoa já dizia que falar de sua aldeia era uma maneira de falar com o mundo. E tinha razão, pois quem sabe se situar em seu tempo e espaço acaba adquirindo uma dimensão bem mais ampla. Um dos exemplos mais perfeitos deste conceito na música é a obra do argentino Astor Piazzola (1921 – 1992), que ressignificou uma música típica de seu país, o tango, dando-lhe contornos impensáveis do ponto de vista harmônico e melódico. Piazzola recriou e até hoje é recriado. Nesta quarta (28), o trio formado pela cantora Martha Moreira Lima, a pianista Fernanda Canaud e a violoncelista Aleska Chediak apresentam, às 12h30, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) um tributo a este genial compositor.

A cantora e atriz Martha Moreira Lima – Foto: Divulgação
A pianista Fernanda Canaud – Foto: Divulgação

O concerto faz parte da série Música no Museu,  nossa maior iniciativa hoje no panorama da música de concerto ao proporcionar apresentações de qualidade com grandes musicistas ao público em geral. No programa, temas obrigatórios de Piazzola como Oblivion e Invierno Porteño serão executados pelo trio com peças menos conhecidas entre as quais La Bicicleta Blanca e Paraguas para Buenos Aires. Completam a lista de composições Ausências, Ave Maria, Vuelvo al Sur”, Prelúdio para el año 3001, Balada para un Loco piano e a única que não é de Piazzolla, o tango Naranjo en Flor. Filha do pianista Arthur Moreira Lima, para quem Piazzolla escreveu um prelúdio, Martha conheceu o compositor durante uma apresentação na Sala Cecília Meireles. “Foi naquele concerto que me apaixonei perdidamente pela música dele”, revela.

a violoncelista Aleska Chediak – Foto: Silvio Almeida / Divulgação

Os temas foram selecionados por Fernanda Canaud, que convidou a cantora e atriz participar do espetáculo ao se conhecerem em Portugal, no ano passado. Depois de alguns ensaios, decidiram incorporar a violoncelista Aleska Chediak, filha do produtor musical Almir Chediak e da pianista Catherine Henriques ao grupo. “Aleska é uma jovem musicista de grande talento e que transita com naturalidade entre o clássico e o popular”, atesta Fernanda Canaud.

Piazzola é reconhecido como o maior compositor de tango da segunda metade do século 20, mas nem sempre foi assim. O que hoje é visto como sua maior contribuição a esse estilo musical – as inovações rítmicas e harmônicas com notória influência do jazz –  recebeu forte resistência dos músicos mais tradicionais. Aos puristas que diziam que ele não fazia tango, Piazzolla retrucava que aquela era a música contemporânea de Buenos Aires, uma cidade de vocação cosmopolita. E estava certo. A música de Piazzola é moderna, revela inquietude assim como a vida nas metrópoles.

Piazzola, uma influência ainda forte

Ao mesmo tempo que foi influenciado pelo jazz, Piazzola tornou-se referência para o mundo jazzístico. Sua revolução no tango abriu as portas para uma revitalização ainda maior na música argentina, tais como o tango de vertente eletrônica. É incontável o número de instrumentistas que lhe renderam tributo seja em vida ou após sua morte. Confirma aqui a íntegra de Libertango, um de seus álbuns mais expressivos:

 

Serviço

Tributo a Astor Piazzola  Concerto com Fernanda Canaud, Martha Moreira Lima e Aleska Chediak
Centro Cultural Banco do Brasil (Rua Primeiro de Março, 66 – Centro)
28/8, às 12h30 – Entrada franca (os convites devem ser retirados com antecedência na portaria do CCBB

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