César Villela (1930-2020) por ele mesmo

Cesar Vilela

Hugo Sukman
Especial para Na Caixa de CD

Esta sexta-feira (11) foi um dia mesmo triste, perdemos, além de Ubirany, um outro gênio doce, que não tirava onda do gênio que era: César Villela, o homem que criou a imagem da Bossa Nova, o João, o Tom e o Vinícius do design.
Certa vez, numa entrevista, ele me contou os detalhes da revolução:
“A Odeon precisava aparecer, quer dizer, eu precisava aparecer. Aí fiquei matutando sobre dois episódios que passaram comigo profissionalmente. Quando eu estava na Rio Gráfica tinha um rapaz chamado Mário Salles, diagramador e falava muito em Mondrian. Piet Mondrian, aquelas linhas, e gostava de fazer as paginações dele baseado no Mondrian, eu captei um pouco disso. Depois, na Standard Propaganda, um diretor de arte chamado Milton Luís fazia os layouts dele usando o que ele chamava de “proporções áureas”: fazia umas linhas a lápis e botava o texto pra cá, a foto pra lá, o logotipo, entende? Ia armando a página, passava a borrachinha e ficava tudo arrumado. Ali, um outro colega muito culto, redator, me falava muito de McLuhan. Fui ler e uma frase fez minha cabeça, “o excesso de detalhes numa composição chama-se ruído visual”. Eu tinha um tripé: Mondrian, “as proporções áureas” e McLuhan. Eu olhava pras vitrines de discos e pensava: tenho que simplificar o meu trabalho”.
A capa de 'Chega de Saudade', de João Gilberto, marco zero da Bossa Nova e cartão de visitas de César Villela - Foto: Reprodução
A capa de ‘Chega de Saudade’, de João Gilberto, marco zero da Bossa Nova e cartão de visitas de César Villela – Foto: Reprodução

 

Depois ele encontrou o fotógrafo Chico Pereira, ambos foram ver uma exposição de fotógrafos amadores e viram coisas ousadas com efeitos como alto contraste e solarização de fotos, coisas que não eram usadas comercialmente. “Aí fizemos a primeira capa solarizada, a do ‘Chega de Saudade’. Quando fizemos a fachada do show do João Gilberto, Tom e Vinícius usamos as fotos em alto contraste. E depois fizemos shows de Maysa, Silvinha Telles, Lenny Dale. Foi quando o Aloísio de Oliveira saiu da Odeon para criar a Elenco. E me levou com ele…”.
E meu coração modernista quase para de emoção. Em preto e branco, alto contraste, detalhes em vermelho.
NOTA DA REDAÇÃO: Abaixo, algumas criações inesquecíveis de César Villela para a Elenco, ícone da Bossa Nova e do que hoje chamamos de MPB:
‘A Bosssa Nova de Roberto Menescal e Seu Conjunto’ (1963)
César Villela
‘Nara’ (1963)
“Bossa, Balanço e Balada’, de Sylvia Telles” (1964)

 

César Villela
“Noel Rosa’ (1962)
‘Antônio Carlos Jobim’ (1964)
César Villela
‘Bossasession’ (1964)
César Villela
‘Um SR Talento’, de Sérgio Ricardo (1963)
César Villela
‘Maysa’ (1964)
César Villela
‘Surf Board’ (1966), de Roberto Menescal e Conjunto
César Villela
‘Vinicius & Odete Lara’ (1963)
César Villela
‘MPB4’ (1967)
César Villela
‘Nana’ (1965)

2 thoughts on “César Villela (1930-2020) por ele mesmo

Deixe uma resposta