Charlie Parker, uma força da natureza em seus 100 anos

Paulo Roberto Andel

Charlie Parker, o sopro por trás da essência do bebop - Foto: Reprodução Foto
Charlie Parker, o sopro por trás da essência do bebop – Foto: Reprodução Foto

É estranho pensar que Charlie Parker tenha vivido por apenas trinta e cinco anos, tamanho é o impacto de sua obra musical. Para quem não sabe, fica a impressão de ter vivido pelo pelo menos mais vinte e cinco primaveras. Ou trinta. Morto precocemente, viveu com intensidade absoluta. Gênio do jazz desde jovem, revolucionou o gênero com a criação do bebop ao lado de craques como Dizzy Gillespie. A vida tortuosa o atirou para a fúria das drogas que, no fim, o levaram muito antes do justo e razoável.

Apontado sempre como um dos maiores músicos de todos os tempos, Charlie “Bird” Parker  conquistou o respeito eterno de muitos de seus contemporâneos, como Charles Mingus, outro gênio mas que não dava ponto sem nó e simplesmente o adorava. E sua música inundou o ouvido de um de seus pupilos, que escreveu a história do jazz tal como a sabemos: Miles Davis.

O fraseado retumbante, a criatividade imensa e o talento inigualável fizeram de Charlie Parker o maior saxofonista da história do jazz. Só de pensar em nomes como os de John Coltrane e Ornette Coleman, ou Lee Konitz e Jon Herderson, ou ainda tantos outros como Wayne Shorter, Dexter Gordon e Sonny Rollins, já se entende o gigantismo de Bird, e não é à toa que neste sábado (29), no dia de seu centenário, ele permaneça como uma força da natureza, um aríete pronto para derrubar convenções estéticas, um paradigma da sofisticação artística no século XX. Fiquem aqui com a excelência do pássaro em gravação não datada de seu quinteto para “All The Things You Are”, uma autêntica preciosidade da música do século 20:

Errante, autêntico, doce, triste, romântico, selvagem, Charlie Parker foi tudo isso e muito mais na sua curta – mas avassaladora – passagem pela Terra. Sofreu, fez sofrer e foi infeliz para sempre, mas tinha tanto a dizer com seu saxofone que não somente influenciou um gênero musical, mas também uma geração inteira. O movimento beat se alimentou do sonho delirante de Bird para revolucionar a literatura e esta, por sua vez, fez a cabeça de Bob Dylan, o que significa dizer que os efeitos da arte repercutiram por todo o mundo.

Dylan disse que saiu de casa ao ler “Na Estrada” de Jack Kerouac, e este rodopiou muito com seus amigos beats ouvindo o frenesi arrepiante de Charlie Parker, o doce e triste Parker que morreu sentado no sofá num ataque cardíaco, mas que antes ofereceu régua e compasso para Miles Davis. Sem tais encontros, o mundo teria sido um lugar mais difícil para se viver. Um sax vibrante e frenético ajudou a escrever toda essa história e, quase sete décadas depois, ainda dita as regras da grande música. #BirdRules

Deixamos aqui um link do trailer de “Bird” (1988). o singelo tributo de Clint Eastwood a este gênio da música com interpretação memorável de Forest Whitaker:

 

 

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