Gab Lara mostra ‘Papo’, seu 1º álbum

Gag Lara
Capa de ´Papo', álbum de Gab Lara
Capa de ´Papo’, álbum de Gab Lara

Um pé fincado na música e outro nas artes cênicas. é assim que o carioca Gab Lara se encaixa no mundo. Filho da atriz e produtora Cristiana Lara, ele conta que fez sua estreia nos palcos amarrado pelo cordão umbilical quando sua mãe encenava uma montagem de “A Megera Domada” aos sete meses de gestação. “Me amarrei no palco, de cordão umbilical e tudo, e acho que nunca mais larguei”, brinca o artista que faz agora sua estreia fonográfica com o álbum autoral “Papo”.

As sete faixas deste trabalho são recheadas pelas referências artísticas de Gab, que conversa com o seu tempo. Ele começou a gravar o álbum na pandemia, quando os shows e espetáculos foram interrompidos. “Não queria ficar sem trabalho, já tinha vontade de produzir algo que me representasse e coincidentemente, o Marquinhos (Marcos Schaimberg, produtor musical e arranjador do disco) me mandou uma mensagem falando que tinha curtido uma música minha que eu havia postado, e perguntando se eu não gostaria de gravá-la. Assim começou a conversa e foi surgindo o ‘Papo’”, recorda o artista, que é neto do jornalista e escritor mineiro Otto Lara Resende (1922-1992).

Sempre ligado às artes, Gab começou no teatro na infância – cursou o Tablado e atuou em diversos espetáculos a partir dos cinco anos. Foi aprovado no elenco de “A Noviça Rebelde”, que unia teatro e música numa leva só. “A partir daí, entrei pra aula de canto e, literalmente, nunca mais parei. Os gostos foram mudando, fui conhecendo cada vez mais a música, novas e velhas referências. Fui absorvendo – diria até deglutindo, antropofagicamente falando – tudo de mais brasileiro e cruzando com tudo que é forasteiro. Até que em 2016 decidi fazer aula de violão e, de uma hora pra outra, me vi completamente tomado pela música popular brasileira. Assim sigo”, rememora Gab, que também é formado em Cinema pela UFF e Artes Cênicas pela UNI-Rio.

O cantor, compositor e ator Gab Lara - Fotos: Marina Benzaquem
O cantor, compositor e ator Gab Lara – Fotos: Marina Benzaquem

Ainda em 2016, fez seu primeiro show, junto com Tom Karabachian, no qual cantavam covers. Em 2019, começou a interpretar suas próprias composições e a partir daí foi amadurecendo a ideia de gravar seu próprio álbum. “Queria fazer algo que juntasse música brasileira, principalmente dos anos 70, com uma pegada mais digital e tecnológica”, explica. Ele mesmo batizou a sonoridade de “MPB de alta voltagem”: “É a música brasileira atravessada pelos cabos de alta tensão, pelos fios da telefonia, da computação. É um ninho de pássaros num poste de rua. É a conversa por vídeo chamada entre uma arara e um computador quântico”, define.

Essa é mesma a sensação do ouvinte ao escutar “Albatroz Azul”, faixa que abre a tampa do disco, primeira composição feita em parceira com Vicente Conde, com quem assina cinco das sete canções do álbum, e que traz a participação de Dora Morelenbaum nos vocais. Há de se notar no arranjo certas passagens que remetem à sonoridade da geração mineira do Clube da Esquina.

Já “Dança das Cadeiras” é uma bossa-nova com tom jazzístico e “Iacanga”, uma divertida homenagem ao festival que aconteceu no interior de São Paulo, nos anos 70 e 80, e que o próprio Gab admite não ser nascido na época. Assistam o clipe:

“Ainda Há Tempo” apresenta um arranjo espaçoso e cheio de sutilezas, fórmula que se repete em “Interlúdio”, com citação a um texto da Marina Colasanti, na voz da ator e dramaturgo Antônio Abujamra (1932-2015).

Gab Lara exibe o lado cronista (tal qual seu avô) na letra da divertida “Viagens” com sua atmosfera dançante. E o “Papo” se encerra na faixa-título com sua levada de voz, violão e “chiado de vinil” ao fundo.

Dono de um bom timbre e movido a investigações sonoras, Gab Lara pode trilhar um interessante caminho musical. O primeiro (e acertado) passo já foi dado neste álbum.

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