Cantor e multi-instrumentista, Guilherme Schwab faz nesta terça-feira (30), às 17h, uma live em parceria com o músico Fábio Lessa (diretor musical dos espetáculos de Preta Gil) em prol dos profissionais de cultura de Niterói num projeto batizado de Nikity Sunset com transmissão no canal de YouTube do projeto. O formato reúne sempre uma dupla de artistas da cidade. Schwab e Lessa serão acompanhada pelo percussionista Junior Moraes.

Na live, Schwab apresentará músicas que marcaram sua carreira e que gravou para trilhas de novelas, bem como as inéditas que fazem parte do seu novo álbum “Tempo dos Sonhos”, trabalho inspirado no aprendizado do didgeridoo – instrumento de sopro das tribos aborígenes australianas e com um som exótico e único que lembra, de certa forma, os berrantes do Pantanal ou as flautas iurá, dos índios da tribo Xingu. Além disso, o caldeirão global do músico inclui instrumentos de percussão, o havaiano ukelele e a até a viola caipira.
“Comecei a tocar o ‘didge’ há oitos anos. Tudo na base de vídeos da internet, pois não conhecia ninguém no Brasil que dominasse o instrumento. Em 2013 e 2014, em viagens e Europa, conheci colegas que tocavam o didgeridoo, o que foi importante para assimilar novas técnicas”, conta o músico, acrescentando que é preciso dominar a técnica da respiração circular (puxar o ar sem parar de soprar), através do diafragma.
O didgeridoo é feito de troncos e galhos ocos de árvores mortas. “Cada ‘didge’ tem seu próprio tom. Para os aborígenes, ele não é um instrumento feito pelo homem, mas ofertado pela natureza e, portanto, sagrado. Os aborígenes não cortam nenhuma árvore saudável. No eucalipto costuma haver um fenômeno no qual os cupins só comem a árvores por dentro. Então eles buscam árvores ocas na floresta para fazer os instrumentos”, explica.
Embora a familiaridade com esse exótico instrumento nos leve a crer que Guilherme Schwab conheceu o intrumento numa viagem à Austrália não foi isso que aconteceu. “Na verdade nunca estive lá. Nos anos 1990 havia uma banda de surf music formada por aborígenes, a Yothu Yind, que usava o didgeridoo, o que chamou minha atenção, mas a vontade de tocar começou quando amigos que moram na Austrália começaram a me mandar vídeos. Lá, o instrumento foi adotado até nas salas de concerto. Há sinfonias e outras peças clássicas compostas para o ‘didge'”, conta.
Com o didgeridoo, Schwab faz a introdução de uma das canções que mais gosta em seu álbum. Trata-se de uma releitura rock and roll de “Tocando em Frente”, sucesso de Amir Sater e Renato Teixeira e já gravada por vários artistas. O arranjo de Schwab foi apresentado num programa no canal Multishow.
“O Renato viu e chegou a postar nas redes que aquela música só lhe trazia alegrias. Tempos depois, tive a oportunidade de pedir a ele a autorização para tê-la em meu álbum solo. Foi uma benção poder regravar essa música, que é quase uma oração e que todo mundo gosta. Ao mesmo tempo, era um risco mexer em algo tão conhecido. Eu tinha meios receios, mas a música estava muito dentro de mim e os autores gostaram”, justifica.

Mas Guilherme Schwab é um entusiasta do que se costuma chamar de world music, com muita mistura de ritmos e de instrumentos vindos das mais variadas culturas. isso já acontecia em sua passagem pelo Suricato, banda que venceu o reality show Superstar e conquistou o Grammy Latino de 2015 na categoria de Melhor Álbum de Rock em Português com o álbum “Sol-te”, com sua base de folk, blues e rock. Fora da banda, dedicou-se ao trabalho de músico e arranjador para trilhas de novelas e seriados da TV Globo, experiência quer o levou a gravar e dividir o palco com artistas das mais variadas tendências como Pepeu Gomes, Baby Do Brasil, Erasmo Carlos, Caetano Veloso, Ney Matogrosso, Armandinho, Toni Garrido, Dinho Ouro Preto, Paulo Miklos, Paulo Ricardo, Roupa Nova, George Israel, Kiko Zambianchi, Tiago Iorc, Chitãozinho e Xororó, Luan Santana, Paula Fernandes, Preta Gil, Moska, Ivete Sangalo, Melim, Jota Quest, Iza e Raul Midón, entre outros.
E esse interesse pela fusão de ritmos ficou expressa em “Pangea” (2015), o primeiro álbum solo que só saiu em formato físico. “Pangea é aquele continente único. Esse disco não foi trabalhado e divulgado como eu gostaria, tanto que nunca foi para as plataformas digitais. Depois do ‘Tempo dos Sonhos’, pretendo jogar ele nas plataformas”, avisa. Neste álbum é possível ouvir combinações globalizadas como um reggae com ukelele, baião com violão havaiano ou rock com baião, temperado por didgeridoos e berimbau.
No EP “Tempo de Sonhos” outra faixa interessante é “Vamo Embora”, que nasceu um blues acústico e ganhou peso e distorção sem abrir mão da viola caipira e com citações de baião. A viola caipira com suas cinco cordas em pares é afinada em ré ou sol abertos. “O sol aberto é chamado pelos violeiros de rio abaixo, a mesma afinação que Keith Richards usa na guitarra co cinco cordas que ele costuma usar”, compara. Vejam o clipe oficial de “Hora e Lugar”:
Guilherme Schwab comentou cada uma das faixas de seu EP “Tempo dos Sonhos” num dos episódios do podcast Faixa a Faixa. Ouça aqui: