Herbert Vianna recebe o Prêmio UBC 2020

Herbert Vianna

Neste 7 de outubro o Brasil celebra o Dia Nacional do Compositor. Um país com a tradição de autores como o Brasil deveria, inclusive, reverenciá-los todos dos dias do ano. A União Brasileira de Compositores (UBC), a maior sociedade autoral do país, anualmente concede um prêmio a esses criadores e o homenageado deste ano é Herbert Vianna.

No bojo das comemorações, o compositor, cantor, instrumentista e líder do Paralamas do Sucesso tem sua vasta obra revisitada no portal da entidade, exposição virtual de fotografias com a trajetória do artista, lives temáticas e a estreia, nesta quarta (7), às 19h, do documentário “Herbert Vianna” no canal da UBC no YouTube.

Autor de sucessos que fizeram o Brasil cantar como “Óculos”. “Meu Erro”, “Romance Ideal”, “Alagados”, “O Beco”, “Lanterna dos Afogados”, “Uma Brasileira”, “Saber Amar”, “La Bella Luna”, “Ela Disse Adeus” e uma lista enorme, quase interminável, Herbert tem o seu talento para criar mais do que reconhecido pelos colegas. “Herbert nasceu pronto”, comenta Gilberto Gil, em depoimento ao site da UBC. O baiano disse ter se encantado pelo então garoto de 22 anos logo quando os Paralamas surgiram, em 1983, com o disco “Cinema Mudo”, que você ouve aqui:

“É um extraordinário compositor, capaz de unir racionalidade e emoção em suas obras”, testemunha diz Paulo Sérgio Valle, presidente da UBC, parceiro de Herbert em dois estrondosos sucessos: “Aonde Quer Que Eu Vá”, gravada pelos Paralamas; e “Se Eu Não Te Amasse Tanto Assim”, registrada por Ivete Sangalo e, anos depois, por ela, Gil e Caetano Veloso. A aproximação de Paulo Sérgio, um dos mais tarimbados compositores da MPB, com Herbert é contada em detalhes em seu livro “Contos e Letras – Uma Passagem Pelo Tempo” (Litteris Editora). Veja aqui Ivete, Gil e Caetano numa versão ao vivo para “Se Eu Não Te Amasse Tanto Assim”. É muita lindeza para uma música só:

A homenagem da UBC a Herbert pelo conjunto da sua obra como compositor é uma oportunidade para que o público se debruce com atenção sobre o olhar deste artista para o que acontece em nossas vidas. “Ele é sempre muito ligado e muito antenado, tanto no que o cerca quanto no que veio das gerações anteriores. Tudo que ele faz me interessa”, destaca Gil.

Herbert Vianna e seus óculos: canação ressiginficou a vida de muitos jovens nos anos 1980 - Foto: Maurício Valadares
Herbert Vianna e seus óculos: canção ressignificou a vida de muitos jovens nos anos 1980 – Foto: Maurício Valadares

Para o baiano, Herbert começou já muito robusto como instrumentista, compositor e intérprete. “Isso já apareceu logo na primeira configuração do trabalho dele. Sua evolução é toda em termos de depuração de uma coisa que já estava posta. “Óculos” — do segundo disco dos Paralamas, “Passo do Lui” — é, para Gil, um exemplo da força criativa do artista em seu início de caminhada. “Eu fiquei impressionado com o vigor e a capacidade de tradução de uma situação da vida.”

Ao lado de contemporâneos como Renato Russo e Cazuza, Herbert Vianna é um dos compositores mais fecundos da geração do rock brasilis. Mas a cantora e compositora Fernanda Abreu, parceira de Herbert na música “Speed Racer”, e intérprete de “Um Amor, Um Lugar”, o vocalista dos Paralamas tem a longevidade a seu favor. “Herbert é um gênio. Da minha geração, ele e Renato Russo são os maiores. Mas o Herbert mais ainda, porque a discografia dele é mais extensa. Ele consegue se comunicar com todas as classes sociais e todas as regiões do país”, compara.

São quase quatro décadas de trajetória musical deste paraibano de João Pessoa, criado em Brasília e radicado no Rio, uma micro síntese do Brasil. Com Bi Ribeiro (baixo) e João Barone (bateria) foram 14 álbuns de estúdio, quatro álbuns solo e um penca de canções gravadas por intérpretes dos mais variados estilos como Ney Matogrosso, Ivete Sangalo, Zizi Possi, Maria Bethânia, Marina Lima, Kid Abelha, Biquini Cavadão (de quem é padrinho musical), Daniela Mercury, Rubel, Cássia Eller e Gal Costa.

Nem ele nem os Paralamas nunca se acomodaram, sobretudo na mescla de gêneros — rock, samba, reggae, blues, sons latinos e africanos —, uma marca registrada da banda. “Herbert soube mixar superbem a herança pop anglo-saxã, que ele ouviu muito na vida, com outras culturas musicais, como a jamaicana, a africana e a caribenha. Os Paralamas me ensinaram que rock era uma maneira de tocar qualquer ritmo. Os discos ‘Selvagem?’ e ‘Bora Bora’ são bem isso. Eles abriram minha cabeça”, afirma o cantor e compositor Lucas Santtana, cuja carreira começou na virada dos anos 1990 aos 2000, duas gerações à frente do momento em que os Paralamas despontavam na cena musical brasileira.

Essa inquietude, esse experimentalismo, se fazem ainda mais presentes na discografia autoral de Herbert. Todos os seus álbus fora dos Paralamas são completamente diferentes entre si. Em “Ê Batumaré” (1992), toca todos os instrumentos e grava as 11 faixas em casa (antecipando em quase 30 anos o que hoje é uma tendência de mercado). Em “Santorini Blues” (1998), bases de violão, piano e discretas guitarras emolduram as canções. Já em “O Som do Sim” (2000), convoca cinco produtores e quase 20 músicos de várias gerações para um trabalho coletivo nos arranjos. E em “Victoria” (2012), o artista interpreta canções que fez para outros artistas tendo apenas a voz e o violão, quase que reproduzindo a atmosfera criativa de canções como “Nada Por Mim” e “Pra Terminar”. Um discaço, que você pode relembrar aqui:

E não há como falar de Herbert sem deixar de registrar o trágico acidente de ultraleve que causou a morte de sua mulher, Lucy, o deixou o paraplégico e comoveu o país com a dramaticidade de um folhetim. Em sua caminhada não transparece apenas o talento e sua sensibilidade, mas a força do guerreiro que driblou a morte com um verso torto e segue nos encantando a cada show, a cada disco, a cada aparição pública. E dá razão à etimologia de seu nome, já que Herbert vem do germânico e significa Ilustre Guerreiro. Faz todo sentido! Viva Herbert Vianna, poeta do povo brasileiro!

 

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