Inezita Barroso recebe releitura sofisticada sem deixar de ser popular

Ceumar, Lui Coimbra e Paulo Freire em tributo à Inezita Barroso
Capa do CD Viola Perfumosa - Inezita Barroso
Capa do CD Viola Perfumosa, em tributo a Inezita Barroso – Foto: Reprodução

Falar de música brasileira é tão difícil quando há tantos brasis dentro do Brasil e sabemos que essa diversidade se irradia sobre as pessoas sob as mais diversas formas de expressão, inclusive na linguagem musical. Aqui do Rio, mesmo tão cosmopolita, às vezes não temos olhos ou ouvidos para nos deixar tocar pela singeleza de certas canções que cantam outras formas de ver e sentir. A chamada música caipira, por exemplo muitas vezes é algo muito distante para nós, urbanóides, sobretudo se não a ouvirmos de coração aberto. Faço este longo preâmbulo para justificar a beleza de trabalho que é o álbum Viola Perfumosa, que reúne a mineira Ceumar, o carioca Lui Coimbra e o paulistano Paulo Freire em homenagem à discografia de Inezita Barroso. Depois de percorrer São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Paraná, o espetáculo finalmente chega ao Rio nesta quarta-feira no Teatro Prudential (ex-Adolpho Bloch), na Glória.

A cantora, atriz e pesquisadora Inezita Barroso
Cantora, atriz e pesquisadora, Inezita Barroso foi grande responsável pelo resgate da música do interior brasileiro – Foto: Reprodução Internet

No palco, o trio canta, conta causos e se reveza tocando viola, violoncelo, rabeca, violões e percussão. Os arranjos e roteiro levam a assinatura dos artistas e Lui responde pela direção musical do espetáculo. Assim como no elogiado álbum, Ceumar, Lui e Paulo resgatam melodias de grande sofisticação e de uma poética que toca fundo na alma do Brasil que está além das capitais. Luar do Sertão (Catulo da Paixão Cearense), Tamba-Tajá (Waldemar Henrique), Índia (J. Flores) e Moda da Pinga (Laureano) estão entre as toadas, modinhas, cocos e guarânias que que compõem o repertório eternizado por Inezita Barroso (1925 – 2015), a dama da música caipira. Veja aqui a apresentação feita pelo trio em maio em Belo Horizonte, exibida pelo programa “Hypershow”, da Rede Minas:

Muitos caminhos até Inezita

Muitas foram as formas como o universo musical de Inezita Barroso que de caipira nada tinha (era paulistana de família de posses e teve formação musical em piano clássico) chegou ao trio que gravou Viola Perfumosa. Ceumar ganhou uma caixa de CDs de Inezita e a ouviu dezenas de vezes até decidir emprestar sua bela e limpa voz a esse cancioneiro tão singelo. Lui conta que conheceu grande parte do repertório por causa do pai (mineiro de Ouro Fino e ouvinte assíduo). E Paulo, sob a influência (quem não) da leitura de Grande Sertão: Veredas (1956), a obra-prima de Guimarães Rosa, embrenhou-se Brasil adentro, desbravando riquezas sonoras musicais como  um bandeirante de ritmos.

“São músicas que moram no coração e na saudade de muita gente”, comenta Ceumar. “Somos feitos da cultura popular – ela é uma riqueza nossa. Queremos que todos notem isto: a maravilha que é fazer parte dessa tradição”, diz completa Lui, consciente de que não deve virar o rosto para expressões artísticas que não nascem dos manuais eruditos. E Inezita Barroso era a síntese disso. Mesmo sendo uma pesquisadora, com formação acadêmica, pisou o barro, calçou botas para correr o país por suas entranhas. Saiba mais sobre a vida de Inezita clicando aqui. “Ela carregava a força de quem luta pelo que acredita – e é independente”, observa Paulo Freire.  Mas o refinamento existe. Basta ouvir Viola Perfumosa.

Serviço

VIOLA PERFUMOSA – Viola Perfumosa – Ceumar + Lui Coimbra + Paulo Freire – uma homenagem a Inezita Barroso
Teatro Prudential  (Ed Manchete – Rua do Russel, 804 – Glória  -Tel: 3554-2934)
23/10, às 19h – Ingressso: R$ 60 e R$ 30

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