O pianista João Carlos Assis Brasil, nome de peso na história da música brasileira, morreu nesta segunda-feira, aos 76 anos. Segundo postagem publicada nas redes sociais pela assessoria de imprensa do artista, ele sofreu um infarto na última sexta-feira e acabou não resistindo. “Ele cumpriu sua missão por aqui, e agora sua obra se eterniza”, diz a postagem. Desde a ocorrência do infarto, o pianista estava internado em um hospital de Niterói, cidade onde passou a morar no ano passado, quando se mudou do Rio de Janeiro.
O músico nasceu no Rio em 28 de agosto de 1945. Ainda criança, iniciou estudos no Conservatório Brasileiro de Música. Aos 10 anos, recebeu o 1º Premio do Conservatório. Dois anos depois, venceu o Concurso Nacional de Piano da Bahia e, na adolescência já integrava orquestras. Em 1960, sempre em busca de aperfeiçoamento, seguiu os estudos do instrumento com o concertista Jacques Klein. Em 1964, viajou para Paris, onde estudou com Pierre Sancan.

Em 1965, participou do Concurso Internacional Beethoven, realizado em Viena, classificando-se em terceiro lugar, disputando com mais de 60 candidatos. Na capital austríaca, aprimorou seus estudos com Richard Hauser e Dieter Weber e atuou como solista na Orquestra Filarmônica de Viena.
Transitando entre a música clássica e a popular, conquistou diversos prêmios e gravou com vários artistas como Ney Matogrosso, Maria Bethânia, Zizi Possi, Alaíde Costa, Olívia Byngton e Wagner Tiso.
“No fundo e também no raso, sou um músico de formação clássica. O que faço com a música popular é recriá-la a partir de técnicas harmônicas da minha formação. Criar é o meu grande barato”, costumava dizer o instrumentista.
Mas não deixava a carreira solo em segundo plano. Na década de 1980, formou, com Zeca Assumpção (contrabaixo) e Cláudio Caribé (bateria), o João Carlos Assis Brasil Trio, que mais tarde contou com a participação de David Chew (violoncelo) e Idriss Boudrioua (sax). O grupo foi uma referência do jazz brasileiro.
Sem, no entanto, voltar as costas à música de concerto uniu-se em 1982 à pianista Clara Sverner, com quem desenvolveu um trabalho a quatro mãos que resultou no LP “Clara Sverner e João Carlos Assis Brasil: Satie-Joplin”, considerado um dos 10 melhores discos do ano pela crítica especializada.
Em 1987, integrou a banda de Ney Matogrosso na gravação e na turnê do álbum “Pescador de Pérolas”, com a qual viajou pelo Brasil e Portugal. No ano seguinte, alternando apresentações nas mais variadas salas de concerto, gravou com Ney e Wagner Tiso um de seus mais importantes projetos: o disco “A Floresta Amazônica – Villa-Lobos”.
Admirador confesso do maestro brasileiro, lançou outros discos sobre Villa-Lobos, um com a cantora Leila Guimarães, executando a “Bachiana nº 5”, e o outro em que realizava o primeiro registro fonográfico do 3º movimento da “Bachiana nº 2”.

Em 1989, apresentou-se, ao lado de Olívia Byington, no Rio de Janeiro (Rio Jazz Clube) e em outras capitais, em show que gerou um disco gravado ao vivo. No mesmo ano, lançaria o álbum “Self Portrait”, um olhar delicado sobre a obra de seu irmão gêmeo Victor Assis Brasil, morto precocemente em 1981, aos 35 anos. Saxofonista, Victor era apontado como um dos principais instrumentistas da história do jazz brasileiro.
Em 1992, apresentou-se, ao lado da diva Alaíde Costa, em show que originou a gravação de um CD. De 1994 a 1997, idealizou e apresentou o programa “Instrumental informal”, transmitido pela TVE.
Em 2000, dividiu o palco do Teatro Café Pequeno (RJ) com Claudia Netto e Claudio Botelho, no show “American Concert”, interpretando clássicos da canção norte-americana de autoria de George & Ira Gershwin, Irving Berling, Cole Porter e Rodgers & Hart, entre outros. Nesse mesmo ano, fez recital na Fundação Eva Klabin (RJ), ao lado de Clara Sverner, revisitando as interpretações da dupla para as obras de Erik Satie, além de Villa-Lobos, Ernesto Nazareth e Maurice Ravel.
Apresentou-se, em 2001, na Série Instrumental da Sala Cecília Meireles (RJ), interpretando obras de Gershwin, Chiquinha Gonzaga, Nazareth, Cole Porter e do irmão Victor Assis Brasil.
Em 2004, gravou o CD “Todos os pianos”. Fez show de lançamento do disco no Mistura Fina (RJ). Nesse mesmo ano, apresentou-se no tributo “Para Victor, com Carinho”, em homenagem a seu irmão Victor Assis Brasil, no espaço que leva o nome do instrumentista no Parque dos Patins, na Lagoa (RJ), do qual também participaram Nivaldo Ornellas e Luiz Avellar Trio.
Em 2005, apresentou-se, ao lado de Claudia Lira, no Café Teatro Arena (RJ), com o show “Chão de Estrelas – Uma homenagem à Era do Rádio”.
Em parceria com o cantor Márcio Gomes, lançou, em 2013, o DVD “Música Popular In Concert”, interpretando clássicos da música brasileira e da música internacional, com show no Theatro Net Rio (RJ) – atual Teatro Claro Rio. Assista aqui um especial que João Carlos Assis Brasil gravou para a TV Brasil em 2019 homenageando seus grandes colegas de instrumento. Ao passear pelas mais variadas escolas musicais, mostra todo seu talento, sensibilidade e versatilidade:
A instituição o homenageou por meio de uma mensagem nas redes sociais. “Era considerado uma lenda viva do piano brasileiro. Aprimorou-se na música popular americana, como nas trilhas de clássicos do cinema e do jazz, e retornou ao Brasil como um fenômeno do piano”, diz o texto.