Luedji Luna e sua africanidade contemporânea

Luedji Luna

O roteiro já é mais do que conhecido, mas precisa ser contado. A pandemia e a necessidade de isolamento social privaram o público de uma das mais instigantes artistas da nova geração. Luedji Luna vem da Bahia, terra onde a ancestralidade negra canta forte, canta alto, mas seu cantar também evoca a modernidade. A cantora e compositora recebe nesta quinta-feira (4) o aconchego da lona do Circo Voador para o show da turnê de seus mais recente álbum “Bom Mesmo é Estar Debaixo D’água”, um dos melhores trabalhos autorais lançados em 2020.
“A água é um elemento ligado às emoções e a Oxum”, explica a baiana radicada em São Paulo.

As gravações do disco foram feitas no Quênia, com instrumentistas locais, de Burundi e Madagascar, prosseguiram em Salvador e São Paulo, durante a gravidez de seu primeiro filho e em plena pandemia. É, nas palavras da artista, “um trabalho atravessado por este grande portal, que é a maternidade”.

Com este álbum, Luedji Luna recebeu em dezembro passado o prêmio WME de melhor álbum de 2020. “É um disco sobre o magnetismo do afeto. De como gravitamos em torno disso. E de como a falta dele afeta-nos, afeta a cabeça, o coração, afeta uma sociedade que vive no ódio do outro, da pele, dos traços, das origens díspares. Quando mais distante desse afeto, mais sem órbita ficamos”, disse a cantora em entrevistas na ocasião do lançamento do trabalho.

Para este show no Rio a cantora apresentará suas canções que transitam entre o jazz e os ritmos africanos e traz a reflexão sobre a afetividade de mulheres negras a partir do olhar da cantora sobre suas experiências afetivas, atravessadas por sua condição de mulher e negra. Uma novidade é o single “Ameixa”, gravado recentemente com Zudizilla, Nave e Fejuca. “Na minha canção a mulher negra é musa”, repete.

“Bom Mesmo é Estar Debaixo D’água” também reflete sobre os impactos da sociedade, machista e LGBTfóbica diante da subjetividade desses corpos que desafiam o obscurantismo.

E se Luedji buscava a África ancestral no disco de estreia, “Um Corpo no Mundo” (2017), neste “Bom Mesmo é Estar Debaixo D’água” – em que assina a produção com o guitarrista queniano Kato Change – ela foi atrás da África moderna. No primeiro trabalho, a baiana que deixou Salvador, com palavras de encorajamento da mãe há cinco anos, conheceu o amargor de viver numa São Paulo em que conseguia se ver nos lugares que frequentava. Agora, se empoderou-se e sabe exatamente onde quer estar.

Editado no Japão e na Europa, “Um Corpo no Mundo” emplacou a dançante “Banho de folhas”, alcançando o top 5 na parada de world music, em 2019. O clipe desta música, dirigido por Joyce Prado, obteve um boom de visualizações e o sucesso a levou a fazer sua primeira turnê internacional quando participou de dois renomados programas de música internacionais: Tiny Desk Concert e Colors, além de se apresentar em palcos do Canadá, Estados Unidos e Europa. Veja a performance de Luedji Luna no Tiny Desk Concert em maio deste ano:

Ludeji é uma nome que vem de Lueji A’Nkonde, rainha de Lunda, região da Angola, célebre por sua força e beleza. Já a nossa rainha baiana é destaque na nova cena musical brasileira, dividindo cetro e holofotes com cantoras como Xenia França, Liniker, Letrux e Tamara Franklin.
Tem dois discos e um EP lançados e contemplados em premiações como o Prêmio Afro 2017, Prêmio Bravo 2018 e WME Awards 2020, além de ser nomeada ao Grammy Latino 2021. Também integrou os projetos Acorda Amor e Ayabass, e fez outras diversas colaborações musicais.

O Circo Voador abre seus portões às 19h, com o DJ Bieta comandando as carrapetas. A casa exige a apresentação do passaporte de vacinação.

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