Morre Vangelis, autor de trilhas inesquecíveis

Vangelis

Eu ainda era um moleque quando comecei a me educar para ouvir, sentir e, porque não, viver a música. Me criei no rock, mais especificamente em sua vertente progressiva. Era simplesmente vidrado nos teclados e tinha meus heróis: Rick Wakeman, Keith Emerson, Rick Wright e Vangelis. Este último, o músico grego que celebrizou-se para além do mundo dos acetatos compondo trilhas sonoras grandiosas para o cinema, morreu nesta quinta (20), aos 79 anos.

Nasceu em 1943 sob o complicado (e comprido) nome de Evángelos Odysséas Papathanassíou. Autodidata, cresceu na cidade de Atenas e formou sua primeira banda, a Forminx, em 1963. Eles tocavam rock e baladas e, como não poderia deixar de ser naquela época, covers dos Beatles.

Após o fim da banda, em 1966, Vangelis passou a trabalhar como produtor e compositor para outros músicos. Foi nessa época que passou a escrever partituras para filmes de cineastas gregos. O artista migrou para a França onde fez carreira em algumas bandas e como artista solo, até decidir se dedicar mais às trilhas sonoras que o tornariam famoso por toda parte. Por conta de seu comprometimento com a indústria do audiovisual, chegou a recusar uma proposta praticamente irrecusável: substituir Rick Wakeman como tecladista do Yes, tarefa que acabou nas mãos do suíço Patrick Moraz.

Nos anos, 1980, Vangelis alcançaria o sucesso comercial e mundial com suas trilhas. Assinou os temas do longa “Carruagens de Fogo” (1981), dirigido por Hugh Hudson, que lhe rendeu um Oscar. Em 1984, o canal britânico BBC usaria o tema como trilha de sua cobertura das Olimpíadas de Los Angeles (EUA). A história se repetiu em Seul (1988) e na inauguração do estádio Olímpico de Londres, para as Jogos de 2012, atletas marcharam até a praça esportiva ao som de “Carruagens de Fogo”, que também seria ouvida no desfile da tocha olímpica no mesmo ano. A peça sinfônica de Vangelis ganhou inúmeras versões e tornou-se atemporal, embalando competições de atletismo mundo afora.

Como se não bastasse ter escrito “Carruagens de Fogo”, Vangelis criou as canções de “Blade Runner”, um dos títulos mais expressivos da filmografia do britânico Ridley Scott. A atmosfera futurista do longa estrelado pelo astro Harrison Ford foi perfeitamente captada por Vangelis, que fez uso de sintetizadores e saxofones carregados como no tema de amor do personagem de Ford com a bela replicante vivida por Sean Young.

“Minha música não tenta provocar emoções como alegria, amor ou dor na audiência. Ela apenas dialoga com a imagem, porque eu trabalho dentro do momento” (Vangelis)

E a relação do artista grego com a Sétima Arte segue com grandes êxistos. No fim da década de 1980, criou a trilha sonora do drama político vencedor da Palma de Ouro “Desaparecido: Um Grande Mistério”, do compatriota Costa-Gavras, baseado nos abusos cometidos pela ditadura assassina de Augusto Pinochet no Chile. Jack Lemmon tem atuação simplesmente arrebatadora neste trabalho.

Outros trabalhos de Vangelis incluem “Rebelião em Alto-Mar”, com Mel Gibson e Anthony Hopkins, “1492 – A Conquista do Paraíso”, outro longa de Ridley Scott, “Lua de Fel”, de Roman Polansky, e alguns documentários do ambientalista e naturalista francês Jacques Cousteau, de quem o músico acabaria se tornando grande amigo. A trilha sonora mais recente de Vangelis foi feita para o drama histórico “El Greco”, dirigido por Yannis Smaragdis, que narra a vida do famoso pintor renascentista que dá nome ao filme, que você ouve abaixo:

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