Paralamas + Biquini… Que noite!

Gosto de dizer aos meus amigos mais novos que fui um assíduo frequentador do Circo Voador desde os tempos em que a lona mágica que fez o rock brasileiro voar ficava no Arpoador. Era um tempo em que a gente ia ver as bandas que nasciam com as propostas mais variadas. A gente cantava junto as dores e amores de uma geração nascida e crescida nos ambos de chumbo e que ensaiava seus primeiros gritos de liberdade política, de comportamento e costumes. sabemos que ajudamos a mudar o Brasil e espero que este esforço não tenha sido em vão. O textão vai ficar por aqui e passo no blog para registrar a felicidade de ter sido testemunha ocular (e auditiva) de bandas que voaram para muito além do picadeiro do Arpoador e depois da Lapa. Sábado à noite, pulei, dancei e me esgoelei (como há muito não fazia) durante o excelente show do Biquini Cavadão aberto pelos Paralamas do Sucesso na Fundição Progresso.

A simples aparição de Herbert Viana num palco já é motivo mais do que suficiente para se viajar por algumas das maiores preciosidades produzidas pela música brasileira desde os longínquos nos 80 do século passado. Mas o trio formado por Herbert, João Barone e Bi Ribeiro sabe o que é se reiventar faz tempo e ninguém fica parado. João Fera (teclados), Bidu Cordeiro (trombone) e Monteiro Jr. (sax tenor) são bem mais do que músicos de apoio e dão, na medida certa, as levadas que o grupo precisa para cair de cabeça no reggae e no ska que estão na certidão de nascimento da banda. Da escolha do repertório mostrando tudo significativo que os Paralamas produziram, passando pela iluminação e som impecáveis, ficava difícil querer que a presentação chegasse ao fim.

Mas era preciso dar espaço ao Biquini Cavadão, essa banda de nome exótico dado pelo próprio Herbert, que é o padrinho oficial do quarteto. Essa história foi contada ao vivo por deles no palco durante a canja que o cantor, guitarrista e compositor deu logo no início da apresentação dos afilhados. Juntos tocaram “Tédio”, o primeiro hit da da banda. Delírio total. As homenagens a Herbert não iriam parar ali, pois o Biquini tem como trabalho mais recente o álbum Ilustre Guerreiro, uma releitura ousada de oito canções assinadas pelo líder do Paralamas.

Seja tocando as músicas do amigo, composições próprias ou alguns sucessos de outras bandas dos anos 80, o Biquini Cavadão tem uma relação especial com o palco e público. Seus álbuns de estúdio são de qualidade, mas a energia de suas apresentações ao vivo é que faz esta banda mais viva do que nunca. O quarteto original da banda é afiadíssimo – Bruno Gouvea continua com uma das melhores vozes do rock brasilis – e ainda conta com o auxílio luxuoso do performático baixista Marcelo Magal e do saxofonista Walmer Carvalho. Os fãs mais novos da banda devem imaginar que versos como “eu sou do povo / eu sou um Zé Ninguém / aqui embaixo as leis são diferentes” acabaram de ser escritos. O Brasil anda sendo tão castigado que versos de protesto vêm e vão. Mas façamos como Janaína “que apesar de tudo / ainda tem sonhos”.

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