Paulo Sérgio Santos na reta da boa música

Paulo Sérgio Santos
Capa do álbum 'Peguei a Reta', do clarinetista Paulo Sérgio Santos
Capa do álbum ‘Peguei a Reta’, do clarinetista Paulo Sérgio Santos

Paulo Sérgio Santos é um dos instrumentistas de sopro mais conceituados e requisitados da música brasileira. Desde o aprendizado autodidata com uma gaita até tornar-se integrante do renomado Quinteto Villa-Lobos e primeiro clarinetista da Orquestra Sinfônica do Theatro Municipal vai uma grande história, que desemboca em seu terceiro trabalho solo, o álbum “Peguei a Reta”, com distribuição física e digital pela gravadora Kuarup.

É sempre uma grande alegria ver um grande instrumentista apresentar o seu trabalho da forma como ele pensa música. Neste álbum, Paulo Sérgio, que domina tanto o repertório orquestral quanto o popular, montou com seu filho Caio Márcio Santos (violões) e Diego Zangado (bateria) um potente e entrosado power trio que passeia por pérolas de nosso repertório instrumental, com ênfase no choro, mas também com os pés (muito bem) fincados no samba e no forró.

São músicas da autoria de Pixinguinha, Benedito Lacerda, Ernesto Nazareth, Radamés Gnattali, Paschoal de Barros, K-Chimbinho, Severino Araújo, Pixinguinha, Abel Ferreira, Aldir Blanc, Guinga, Porfírio Costa, Sivuca e Glorinha Gadelha, além de “Samba da Lua”, de Paulo Sérgio, e “Terra Seca”, do violonista Caio Márcio.

Da discografia de Paulo Sérgio é imperioso destacar dois álbuns: “O Trio”, gravado em Paris com Maurício Carrilho e Pedro Amorim, que ganhou dois prêmios como Melhor Álbum Instrumental e Melhor Grupo Instrumental; e “Segura Ele” (2007), seu primeiro disco solo que contou com as participações dos músicos Marco Suzano, Tuti Moreno e Raphael Rabello. Este trabalho ganhou o prêmio Revelação. Seu trabalho com Guinga merece um destaque. Além disso, Paulo Sérgio músico se faz presente com seu instrumento em todos os trabalhos de estúdio de Guinga, exceto o primeiro álbum do compositor, que foi “Simples e Absurdo”, de 1992.

Ouça aqui o novíssimo “Peguei a Reta” e veja, abaixo os comentários de Paulo Sérgio Santos sobre cada uma das faixas deste ótimo álbum instrumental, que nos leva a cenários de encanto da música brasileira:

Faixa a faixa, por Paulo Sérgio Santos

“Na primeira faixa do disco, ‘Apanhei-te Cavaquinho’, foi preservado o estilo inconfundível do Ernesto Nazareth, amado por Villa-Lobos, com uma parte B bastante complexa em termos de sincronia dos dedos mínimos e finalizando com a primeira parte sendo tocada num andamento muito acelerado, com a intenção de atrair o ouvinte pelo caminho do virtuosismo’.

“A segunda canção intitulada Remexendo mostra um Radamés Gnattali com muito suingue e totalmente em sincronia com o título da obra. Um músico excepcional, de formação erudita que descobriu a música popular brasileira, apaixonou-se por ela e contribuiu com sutilezas de grande expressividade”.

“‘Teclas Pretas’, a terceira música, tem esse nome porque se a composição for tocada em um instrumento de teclado como uma escaleta, piano, cravo, sintetizador etc., se faz o uso das teclas pretas e não das brancas”.

O clarinetista Paulo Sérgio Santos está em praticamente todos os trabalhos de Guinga - Fotos: Divulgação
Paulo Sérgio Santos está em praticamente todos os trabalhos de Guinga – Fotos: Divulgação

“‘Eu Quero é Sossego’, de K-Ximbinho e Hianto de Almeida, quarta faixa, mostra um lado extremamente expressivo, doce e de um gosto harmônico muito especial”.

“Já em ‘Um Chorinho Em Aldeia’, a quinta melodia, mostra a composição do grande músico Severino Araújo, o rei dos bailes, irmão de Zé Bodega, um dos maiores saxofonistas, clarinetistas e improvisadores brasileiros de todos os tempos. Severino Araújo tocava e regia a sua famosa Orquestra Tabajara, muito influenciada pelas big bands norte-americanas”.

“‘Terra Seca’, a sexta faixa, é uma música de autoria de Caio Márcio Santos, meu filho e integrante do trio, que traz uma influência nordestina”.

“‘Luar de Coromandel’, sétima faixa foi gravada em homenagem ao grande clarinetista Abel Ferreira que, em sua notável generosidade, me indicou Paulo Sérgio Santos como seu sucessor no choro em um programa de TV quando  ganhei o Concurso de Jovens Concertistas quando tinha 16 anos”.

“‘Samba da Lua’ foi escrita num voo entre Roma e Lisboa e levou esse nome devido a uma belíssima lua cheia que pairava no céu naquela noite durante o trajeto.”

“‘Cheio de Dedos’, nona faixa, é de autoria do Guinga que, para mim, é um verdadeiro marco na música brasileira. Tive teve a honra de viajar mundo afora com este músico carioca, sempre cativando o público com a sua genialidade e força de sua música”.

“‘Cheguei e Seu Lourenço no Vinho’, décima e décima segunda faixas, foram dedicadas a Pixinguinha, um verdadeiro ícone do choro e aqui em um arranjo primoroso e ousado do Caio Márcio, feito para três clarinetas, violão, bateria e percussão. Dois clássicos do mestre”.

“As duas últimas faixas são do Sivuca, com quem toquei. Sivuca divide a autoria com sua esposa Glorinha Gadelha. A música ‘Dino Pintando o Sete’ é dedicada ao grande violonista de 7 cordas Dino, do Conjunto Época de Ouro, onde tocou e praticamente viveu Jacob Bittencourt. Dino influenciou muita gente como Raphael Rabello, Tony 7 cordas., até mesmo Camarero, o atual 7 cordas do conjunto. ‘Cabaceira Mon Amour (Cheirinho de Mulher)’ é um baião inspirado que deu asas à imaginação coletiva propiciando um clima favorável à improvisação que fecha o álbum”.

 

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