Raul de Souza merece (sempre) aplausos de pé

Por Paulo Roberto Andel

Morreu Raul de Souza nesta semana, mais uma estrela na constelação na música brasileira. Com uma carreira longeva e prolífica, na maior parte do tempo realizada no exterior, Raul arrebatou corações e mentes do mundo inteiro, incluindo nomes faiscante do jazz, tais como Chick Corea, Ron Carter, Wayne Shorter, Sonny Rollins e George Duke.

Raul de Souza e George Duke - Foto: Reprodução
Raul de Souza e George Duke – Foto: Reprodução

Alguns dos maiores músicos de todos os tempos são brasileiros e vários deles aplaudiram Raul de pé em seus shows, ou requisitaram-no para gravar em estúdio. Podemos falar de São Baden-Powell de Aquino, mas também do nosso eterno Hermeto Pascoal, que aí está com tudo em cima e merece todos os aplausos no Brasil. E de Sérgio Mendes, Milton Nascimento, João Donato e Maria Bethânia, entre outros.

É curioso pensar que Raul seria saxofonista pela vontade, mas o dinheiro era curto e ele acabou ficando com um trombone, mais barato. Vivenciou as gafieiras cariocas e, a seguir, incorporou seu som absolutamente brasileiro ao samba jazz, numa linguagem apreciada pelo mundo afora, mas ainda incógnita para boa parte dos ouvintes brasileiros. Depois, ganhou o mundo: morou muito tempo nos Estados Unidos e também na França, onde morreu nesta semana, vitimado por um câncer de garganta.

Fazendo carreira no exterior, mas nunca esquecendo suas raízes locais, Raul de Souza – que na verdade se chamava João José – gravou com inúmeros artistas brasileiros numa eterna ponte aérea mundial. Era um cidadão do mundo.

É estranho imaginar que sua morte fique silenciosa no Brasil, mas nem tanto. É que somos acostumados a dar de ombros para os nossos artistas mais valorosos. No Brasil a música instrumental é uma verdadeira luta, os artistas precisam batalhar pela sobrevivência. Sua cobertura midiática é ínfima. E até nisso Raul de Souza foi um visionário, pois já havia percebido esse cenário antes de todo mundo e se mandou bem antes, mas deixando um legado valioso registrado em muitos álbuns e turnês pelo mundo afora. Pena que o Brasil não lhe deu tantos palcos assim. Um desses raros momentos, o músico fez um concerto para a série Instrumental Sesc Brasil, no Teatro do Sesc Consolação, em 7 de agosto de 2017, que você pode assistir aqui:

Assim como Raul, muitos músicos fantásticos surgiram no Brasil em fins dos anos 1950 e durante toda a década de 1960 – tempos de muita Bossa Nova e samba-jazz – mas, ao contrário do trombonista, foram completamente esquecidos, sem o reconhecimento artístico e financeiro à altura, morrendo amargurados.

Embora Raul tenha deixado sua marca na obra de muitos artistas mundialmente famosos, boa parte desse acervo não está no Brasil, uma vez que foi gravado em sua maioria noutros países. Em tempos modernos, onde as pessoas precisam ouvir música rapidamente no carro ou no metrô, vai ser difícil encontrar seus álbuns com encarte, as devidas informações e a ficha técnica. Mas nada apaga a história: Raul de Souza é um dos maiores músicos do mundo. Vivo ou morto, sua sonoridade permanece reluzente. Ouça aqui “Plenitude”, seu último álbum:

 

Foto em destaque: Netum Lima

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