Por João Victor Ferreira
Especial para Na Caixa de CD
Em abril de 2020, no meio da quarentena e para a alegria dos fãs, depois de sete anos sem lançar nada novo, a banda americana The Strokes apresenta em todas as plataformas de áudio o seu mais recente trabalho “The New Abnormal”. O trabalho que esse álbum pretendia concluir em abril já havia sido pincelado meses antes, quando a banda gradualmente lançava três singles que estariam no disco, aumentando assim a expectativa para vermos como seria essa unidade.
É gratificante ver como a banda continua na ativa e fazendo músicas novas, sem perder traços da sua personalidade cunhada em todo o decorrer do século XXI – até agora. Temos aqui talvez o trabalho mais consistente musicalmente que a banda nos mostrou desde o seu surgimento em 2001 com o antológico “Is This It”. Sem levar em conta a importância histórica e musical que o primeiro álbum da banda teve no cenário do subgênero indie no rock – e na própria música em si –, algo que fez The Strokes se tornar essa referência no estilo. Recentemente a banda foi inclusive referenciada como parâmetro para os Arctic Monkeys. É só ouvir a faixa inicial do álbum “Tranquility Base Hotel and Casino” intitulada “Star Treatment”: ‘I just wanted to be one of The Strokes’ (Eu só queria ser um dos The Strokes).
No mais novo trabalho, a banda volta as suas raízes urbanas do subúrbio de Nova York, mostrando em diversas composições o tom visceral de uma banda de garagem que se sofisticou durante quase duas décadas de existência. A personalidade da banda é visível demais aqui, tanto nos vocais roucos e estilosos de Julian (algo como o Lou Reed), até nas distorções de guitarra de Albert e Nick, além da batida ritmada da bateria em consonância com o baixo. A banda volta naquela definição do que sentimos como indie: aquela mistura de um punk dos anos 1990, com o início da música emo e as novas propostas do rock alternativo.
Pegada eletrônica se faz presente
Há aqui uma influência maior de uma pegada eletrônica que percorre o álbum inteiro, lembrando o estilo de bandas de pós-punk, em músicas como At The Door e Brooklyn Bridge to Chorus. Há muito aqui também dos ‘singles chicletes’ que a banda sempre soube fazer, com a distorção clássica que a banda sempre faz, mas ainda se apegando aos padrões clássicos de um hit (como refrão bem repetitivo e fácil de gravar, compasso simples em 4×4 e etc.), algo que pode ser observado em músicas como “The Adults Are Talking” (que abre o álbum) e “Bad Decisions” (um dos singles lançados antes pela banda).
A melhor música talvez fique com a antes citada “At The Door” (que havia sido a primeira a ser lançada em fevereiro de 2020). Aqui há uma mistura perfeita das tendências eletrônicas – até mostradas por bandas recentes como Tame Impala – que se tornou característica para o estilo indie, sem em nenhum momento você não conseguir dizer: “Isso é muito The Strokes”. Há uma certa melancolia e niilismo na letra da música, algo que sempre foi característico da banda, mas sem abrir mão de uma abordagem mais madura, já que eles amadureceram tanto. Mas é a musicalidade que a faz ser isso tudo, nos propondo uma trip psicodélica nas distorções de teclado e no ritmo constante do baixo que te fazem se sentir em um verdadeiro filme de ficção científica. Assista aqui o clipe:
“The New Abnormal” é um álbum coerente com a carreira dos The Strokes e consistente, levando em conta os seus últimos trabalhos. Se tudo der certo e a sorte estiver ao lado da banda nesse momento difícil para a cultura mundial, talvez esse álbum faça a banda sobreviver ainda relevante por mais uma década que se segue.
Ouça “The New Abnormal” completo por aqui: